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Associação de Gays entra no STF contra política externa de Bolsonaro

Jamil Chade

03/10/2019 08h18

Sede da ONU, em Genebra. Foto: Jamil Chade

 

GENEBRA – A política externa do governo de Jair Bolsonaro se transforma em uma disputa judicial. Diante das instruções dadas pelo Itamaraty a seus diplomatas pelo mundo, a Associação Brasileira de LGBTI entrou com um pedido de medida liminar contra os atos da chancelaria, solicitando que as orientações da diplomacia sejam "imediatamente" suspensas.

A medida foi tomada depois que o Itamaraty instruiu seus diplomatas a vetar determinados termos em debates internacionais, em resoluções e textos oficiais da ONU. Uma das orientações do governo foi de que sua política externa estaria voltada a derrubar e vetar termos como "gênero", além de explicar publicamente que o Brasil considerava a palavra apenas por um contexto de "sexo biológico: feminino ou masculino".

Na medida liminar, os advogados da associação alertam que tal ato do governo "viola a dignidade humana" de lésbicas e gays a medida em que" desafiam o entendimento firmado pelo STF acerca da matéria". A entidade lembra que a corte "reconheceu o gênero como uma manifestação individual e pessoal, não sendo algo que possa ser constituído pelo Estado, a quem cabe, apenas, seu reconhecimento".

O caso está sendo representado pelos advogados Rodrigo Muniz Diniz, Anderson Bezerra Lopes, Débora Nachmanowicz e Gustavo Miranda Coutinho.

Para a associação, o Itamaraty está "desobedecendo" a interpretação. "O Tribunal Supremo ja reconhece que o termo gênero (e sua identificação) não é algo que possa ser determinado pelo estado e que, definitivamente, ultrapassa a era acepção biológica, confirmando-se o manifesto desafio à autoridade da decisão dessa corte", aponta a medida liminar.

Nela, a entidade pede que o STF "determine a imediata suspensão das orientações encaminhavas por expedientes telegráficos pelo Ministério das Relações Exteriores aos diplomatas brasileiros no exterior, que deverão cessar imediatamente toda e qualquer conduta que reforce o ato reclamado, como declarações e posicionamentos em reuniões, negociações e votações que envolvam o tema".

A liminar também pede que a chancelaria revogue as orientações e envie novas instruções aos diplomatas.

Ao longo dos últimos três meses, a delegação brasileira na ONU tem tomado a palavra de forma insistente para rejeitar esses termos durante negociações de resoluções no Conselho de Direitos Humanos e em eventos inclusive na OMS.

Para os advogados, "os atuais membros do governo federal tentam impor uma visão obscurantista e intolerante acerca do tema, extrapolando a discricionariedade administrativa, empregando uma policia persecutória às pautas atinentes ao gênero e à sexualidade em todas as áreas".

O grupo ainda denuncia o "discurso de ódio" de Bolsonaro e "a negação da cidadania da população LGBTI".

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Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)


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