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Bancos suíços vivem escândalo com morte, espionagem e trilhões em jogo

Jamil Chade

02/10/2019 04h00

 

GENEBRA – Espionagem, suspeita de traição, briga de vizinhos, demissões e até uma morte misteriosa. Um escândalo na pacata Suíça está chacoalhando o sofisticado financeiro do país alpino e revelando uma dimensão até então pouco conhecida dos bancos.

O caso começou quando um dos principais banqueiros do Credit Suisse, Iqbal Khan, anunciou que estava deixando o banco para ir trabalhar para o rival UBS. A decisão teria sido tomada depois de uma briga com o CEO,Tidjane Thiam, em sua casa.

O Credit Suisse teria, neste momento, contratado um grupo de espiões particulares para seguir o banqueiro. A meta seria o de garantir que ele não levasse para a concorrência alguns de seus clientes milionários.

Hoje, o Credit Suisse administra uma carteira de U$ 1,4 trilhão, contra uma gestão de fortuna do UBS de US$ 2,3 trilhões. Khan, porém, teria sido o responsável por erguer o Credit Suisse, levando o banco a ver uma expansão de 52% em seus lucros entre 2016 e 2018.

O caso, porém, acabou sendo revelado, abrindo uma crise. O banco foi obrigado a realizar uma investigação interna e, nesta terça-feira, o banco anunciou a queda de dois de seus diretores, inclusive o executivo responsável pela segurança e que teria sido o responsável pela contratação dos espiões.

Segundo o Credit Suisse, a decisão foi tomada depois que uma investigação interna concluiu que o ato de espionar o ex-gerente de fortunas teria sido desproporcional.

Mas a crise não terminou com a queda dos executivos. A imprensa suíça revelou durante a madrugada de segunda-feira que um intermediário usado para contratar os espiões foi encontrado morto. A versão oficial é de que ele teria cometido suicídio.
O Ministério Público de Zurique abriu uma investigação sobre uma possível coerção e mesmo ameaças, diante da ofensiva contra Khan. A polícia chegou a deter duas pessoas, mas que foram liberadas depois de prestar depoimentos.

O executivo, nascido no Paquistão e que se mudou para a Suíça ainda com doze anos, revelou à polícia que foi no dia 18 de setembro que se deu conta que estava sendo seguido por um carro. No centro de Zurique, ele tentou escapar da perseguição, depois de ter deixado seu filho de seis anos em um treino de futebol.

Sua esposa também seria seguida pelas ruas de Zurique, enquanto os espiões usavam mensagens criptografadas para se comunicar.

Khan e Thiam chegaram a ser amigos. Mas a relação mergulhou em uma crise diante da concorrência de ambos dentro do banco.

A situação se agravou quando Khan decidiu comprar uma mansão na mesma rua de seu chefe, numa das zonas mais luxuosas da Europa, a "Costa Dourada" do lago de Zurique.

O executivo, então, decidiu derrubar a casa e construir uma nova, numa obra que levou dois anos. O barulho deixou Thiam irritado. A relação, porém, explodiu quando, numa festa na casa do CEO do Credit Suisse, os dois passaram a se acusar mutuamente.

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Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)


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