Câmera flagra Merkel dizendo a Macron o que fazer sobre Bolsonaro
Jamil Chade
25/08/2019 10h37
GENEBRA – A cena foi registrada pelas câmeras oficiais da cúpula do G7. Mas, quando se deram conta de que havia um debate real entre os líderes sobre o que fazer com o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, o cinegrafista foi obrigado a cortar a imagem.
Num mesa, antes de a cúpula começar em Biarritz, os principais líderes europeus se reuniram para debater a agenda do encontro. Isso ocorreu antes de eles irem ao encontro dos demais chefes-de-estado e de governo que formam o grupos das sete economias mais ricas do mundo.
Ao tratar da crise na Amazônia, a chanceler alemã Angela Merkel toma a iniciativa e diz que um telefonema ao presidente brasileiro deve ser realizado nos próximos dias. O motivo: para evitar que Bolsonaro tenha a "impressão de que estamos trabalhando contra ele".
Imediatamente, o novo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, da seu aval. "Sim, acho que isso é importante".
Emmanuel Macron, presidente da França e que havia liderado o pedido para incluir o tema da Amazônia na agenda do G7, não disfarça seu constrangimento. "Quem?", pergunta o francês, emendando que precisava dizer algo para a alemã.
"Nós ligaremos para ele….", disse Macron, em tom de indagação. "E nossos chefes de gabinete…", disse o francês. Neste momento, Merkel aponta o dedo ao francês e a imagem é cortada.
Nos bastidores, a declaração de Macron de que poderia rever o acordo Mercosul-UE por conta da situação da Amazônia não foi acompanhada pelas diplomacias da Alemanha e Reino Unido, dois países com amplos interesses de comércio e investimento no Brasil.
Se a Irlanda também adotou uma postura parecida com a da França, também ficou claro que Macron não tem o apoio de outros governos, como o da Espanha, na tentativa de condicionar o tratado comercial à situação ambiental.
O problema, segundo fontes, é que esses tratados terão de ser ratificados por parlamentos. E, nas atuais condições, observadores em vários cantos da Europa alertam que dificilmente um parlamentar teria hoje a condição de sair em defesa de um acordo com o Brasil, sob o risco de ver seu eleitor o abandonar.
Sobre o autor
Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.
Sobre o blog
Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)