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Mercosul fecha novo acordo comercial com Noruega e Suíça

Jamil Chade

23/08/2019 17h05

Produtores agrícolas noruegueses já alertam que ratificação pode ser dificultada por situação da Amazônia e prometem continuar pressionando contra um tratado.

 

GENEBRA – Depois de fechar um acordo comercial com a UE, o Brasil e o Mercosul chegam a um entendimento também com os países da Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA) que reúne Islândia, Noruega, Liechtenstein e a Suíça. Nesta sexta-feira, os dois blocos conseguiram encerrar os obstáculos que ainda existiam no texto, numa reunião em Buenos Aires.

Mas produtores agrícolas da Noruega deixam claro que a ratificação do tratado não será fácil, diante da imagem internacional hoje do Brasil por conta da situação das queimadas.

Os dois blocos iniciaram as negociações em 2015. Mas foi apenas em 2017 que houve uma decisão política de que um entendimento deveria ser atingido. Nesse mesmo ano, o comércio entre os blocos superou US$ 8,7 bilhões, apontam dados da EFTA. Ao bloco dos quatro países europeus, o Brasil exportou 1,9 bilhão de euros em 2018 e importou 2,6 bilhões de euros no mesmo ano.

Produtos agrícolas, alimentos, café e partes de aeronaves estão entre os principais itens da exportação do Brasil para os mercados do EFTA, que também conta com tratados comerciais com México, Chile, Colômbia, Equador e Peru.

Mas um dos temores dos suíços era o de ficar de fora de um acordo com o Mercosul e perder espaço para os produtos da UE.

Hoje, produtos suíços e europeus sofrem as mesmas tarifas para entrar no bloco sul-americano. Mas com a redução de impostos acertada com a UE, a consequência do acordo seria a de prejudicar os produtos suíços e noruegueses. Enquanto uma máquina alemã entraria no Mercosul isenta de tarifas, o mesmo produto suíço teria de pagar uma taxa de 20%, o que simplesmente o tiraria do mercado.

Não por acaso, a ordem entre os diplomatas foi a de apressar as conversas para impedir que os bens suíços não sejam prejudicados.

No governo suíço, a estimativa é de que o acordo comercial com o Mercosul gere um ganho potencial de mais de 200 milhões de francos suíços por ano para a economia suíça.

Um estudo realizado pela Confederação Nacional da Indústria apontou que, de fato, um acordo com os países do EFTA traria ganhos para as exportações nacionais.

"O acordo é mais um passo importante na direção de inserir mais o Brasil no mundo. Há ganhos concretos de acesso a mercados nos países e também mais um incentivo pra nossa agenda de reformas internas", declarou Carlos Abijaodi, diretor da CNI.

Segundo o gerente de Negociações Internacionais da CNI, Fabrízio Panzini, o levantamento aponta que o Brasil teria um potencial de se beneficiar nas exportações em 541 grupos de produtos. Em 36% dos casos, esses bens enfrentam tarifas, o que significa que um acordo poderia aumentar o fluxo.

 

Floresta

O acordo ocorre no momento em que a relação entre o Brasil e a Noruega está estremecida por conta do Fundo Amazônia. Em Oslo, porém, o governo insistiu que não poderia tratar de um acordo comercial como se fosse um instrumento ambiental. Os noruegueses estão interessados em ampliar sua participação no mercado de transporte de cargas marítimas no Mercosul, assim como serviços no setor de energia.

Mas, ao UOL, um dos líderes da Associação de Agricultores da Noruega, Bjorn Gimming, deixou claro que seu setor não ve com bons olhos um acordo.  "Não somos um país exportador de produtos agrícolas e, desde o começo de 2019, há uma moratória no uso de novas terras orgânicas para expandir a produção", disse. Segundo ele, o setor de carnes deve ser afetado com a concorrência do Mercosul.

Gimming, porém, aposta em um processo lento e complicado para que o tratado seja ratificado pelo Parlamento de seu país, principalmente diante das imagens recentes da Amazônia. "A ratificação desse tratado será muito difícil", alertou.

 

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Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)


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