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Amazônia “apresenta” Bolsonaro à juventude europeia

Jamil Chade

23/08/2019 11h30

Protesto diante do consulado do Brasil em Genebra. Foto: Jamil Chade

 

GENEBRA – As escolas ainda estão de férias na Suíça. Mas, nesta sexta-feira, estudantes de colegiais de Genebra e Zurique atenderam a uma convocação nas redes sociais e fizeram um protesto diante do consulado do Brasil nas cidades suíças. O mesmo ocorreu em diversas capitais europeias.

Cantando palavras de ordem para salvar a Amazônia e pedindo que seus próprios governos pressionem o Brasil, garotos e meninas reconheciam: foram os incêndios nas últimas semanas transmitidos pelas televisões europeias e nas redes sociais que os levaram a conhecer Jair Bolsonaro.

Nos últimos sete dias, a Amazônia gerou 10 milhões de tuítes, equivalente ao que ocorre quando um ataque terrorista gera ao afetar uma cidade. A derrota do Brasil por 7 x 1 contra a Alemanha foi alvo de 35 milhões de mensagens pela plataforma, em 2014.

Entre os jovens que manifestavam, o que começou como uma preocupação pela floresta em poucos dias se transformou em "surpresa" ao descobrir alguns dos comentários do presidente brasileiro.

O grupo de jovens era acompanhado de perto por policiais, fortemente equipados para uma eventual tentativa de invasão do consulado ou uma depredação do prédio. Nem mesmo colar cartazes nas paredes foi autorizado e, assim que um desses gestos ocorreu, os policiais se apressaram para rasgar o poster.

 

Crianças e bebês também estiveram no ato. Jamil Chade.

 

Mas se todos sabiam da importância da floresta, muitos admitiam que o evento os levou a "descobrir" quem era o presidente do Brasil. "Meu deus, quanta bobagem ele fala", disse Louis, um estudante de 15 anos.

Em diversas manifestações, as imagens deixavam claro que o ato pela Amazônia havia se transformado em um ato anti-Bolsonaro".

Em cartazes em Genebra, o presidente era descrito como "fascista". Em outro, lia-se: "Bolsonaro-Trump: criminosos". "Queimem fascistas, não florestas", dizia outro, com a imagem do presidente brasileiro.

"Não conhecia Bolsonaro", disse a suíça Lori Rodrigues, de 16 anos. "O que ele diz não se pode ser dito. Um presidente de um país tão grande não pode ser assim. O Brasil precisa ser pressionado", afirmou. "Essa é uma causa muito importante e não podemos deixar isso assim", insistiu.

Valerie, que acaba de terminar a escola e vai começar uma faculdade em setembro, confessa também que "descobriu" Bolsonaro nestes últimos dias. "Eu tinha ouvido falar que, de fato, não era uma pessoa sensata. Mas nunca me dei o trabalho de ler mais sobre ele. Mas depois de ver o que ele diz, fiquei assustada", afirmou a suíça, que preferiu não dar seu sobrenome.

Lori Rodrigues, de 16 anos, não sabia quem era Bolsonaro antes dos incêndios na Amazônia. Jamil Chade

Ela, porém, não acredita que os eleitores de Bolsonaro devam ser responsabilizados por sua chegada ao poder. "As pessoas estão desesperadas. Não é a culpa dos eleitores brasileiros. Vemos também na Itália, nos EUA. O povo não é o culpado. São as vítimas, mesmo quando votam por eles", disse.

Caroline Dubois, de 17 anos, diz que foi até a porta do consulado "de tanto ver as imagens da Amazônia em seu telefone". "Fui procurar o endereço e vi que era perto da minha casa. Não sei nada sobre o Brasil. Mas sei que é um assunto meu também", disse.

Nem todos ali, porém, pareciam esperançosos. "Vim mostrar solidariedade. Mas duvido que ele (Bolsonaro) esteja se importando com isso. Talvez seja bom para nossas consciências. Mas não acho que vai resolver muita coisa não", lamentou Valerie.

 

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Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)


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