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Novo informe sobre Mudanças Climáticas colocará Bolsonaro sob pressão

Jamil Chade

22/07/2019 06h11

Na ONU, lideranças indígenas protestam contra as políticas ambientais do governo Bolsonaro.

 

GENEBRA – Um novo informe do Painel Internacional sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigle em inglês) promete se transformar no novo ponto de desentendimento entre cientistas, a comunidade internacional e o governo de Jair Bolsonaro.

O documento será publicado no início de agosto para avaliar a relação entre mudanças climáticas e o uso da terra. A constatação é de que há uma tensão cada vez maior: de um lado, a produção de alimentos. De outro, a preservação como forma de lidar com as mudanças climáticas.

Os detalhes do informe ainda estão sendo mantidos em sigilo, assim como suas conclusões e recomendações. Mas um dos pontos é a conclusão de que a terra é "finita" e "limitada", o que portanto está causando um confronto entre aqueles que defendem a expansão de seu uso para a agricultura e aqueles que insistem que essa terra precisa fazer parte de um esforço para mitigar o impacto de mudanças climáticas no mundo.

Seus autores não disfarçam que existe o risco de um debate entre cientistas e governos sobre temas como a produção de alimentos ou bioenergia.

A preservação de uma certa área tem um impacto global e que, portanto, ações sobre a terra não podem ser consideradas apenas como uma decisão de impacto local.

Na semana passada, Bolsonaro causou ampla repercussão internacional quando declarou a jornalistas estrangeiros sua visão sobre a preservação da Amazônia.

"Existem regulamentações ambientais absurdas (no Brasil) que promovem um divórcio entre preservação ambiental e desenvolvimento", afirma. "A Amazônia é nossa, não é de vocês", declarou. "Existe uma verdadeira psicose ambiental que deixa de existir comigo", alertou.

Ele também surpreendeu ao colocar em questão dados científicos produzidos sobre desmatamento e garantiu que o Brasil é o país que mais preserva o meio ambiente no mundo. "Se todos os dados de desmatamento dos últimos dez anos fossem verdadeiros, a Amazônia não existiria mais", disse.

Ao longo dos últimos meses, dados sobre mudanças climáticas chegaram a ser questionadas também pelo chanceler Ernesto Araújo.

Assim que assumiu, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, extinguiu a Secretaria de Mudanças do Clima e Florestas e a substituiu pela Secretaria de Florestas e Desenvolvimento Sustentável. Para a surpresa mundial, o Brasil ainda desistiu de sediar a Conferência do Clima das Nações Unidas (COP-25), em dezembro.

Ativistas ainda criticaram quando o ministro disse que o governo precisava se preocupar com coisas mais tangíveis e que o assunto das mudanças climáticas era para "acadêmicos" sobre como estará o planeta "daqui a 500 anos". Sua pasta ainda contingenciou 96% dos recursos que existiam para a Política Nacional sobre Mudanças Climáticas.

Barack Obama e outros líderes já deixaram claro que a atual geração é a primeira no mundo a viver os reais impactos das mudanças climáticas.

No caso do IPCC, ainda que a sede de sua secretaria fique em Genebra, 53% dos cientistas que participaram da elaboração do documento são de países em desenvolvimento. O documento deve ser publicado no dia 8 de agosto.

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Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)


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