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COI pede esclarecimentos a seus membros diante de denúncias de Cabral

Jamil Chade

05/07/2019 05h51

 

Bubka rejeita alegações de Cabral. Popov diz que sequer votou pelo Rio de Janeiro e prepara um processo para proteger sua "dignidade"

 

GENEBRA – O Comitê Olímpico Internacional entrou em contato com seus membros citados como tendo sido supostos beneficiários de propinas, na escolha da sede dos Jogos de 2016.

Na quinta-feira, o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (MDB) afirmou em depoimento ao juiz federal Marcelo Bretas –responsável pelas ações em primeira instância da Lava Jato no Rio– que intermediou a compra de votos junto a membros do COI para que o Rio de Janeiro pudesse sediar os Jogos Olímpicos de 2016.

De acordo com o ex-governador, entre os votos comprados está o do nadador Alexander Popov, bicampeão olímpico nas provas de 50 m e 100 m livres em 1992 e 1996, e o do ucraniano Serguei Bubka, campeão olímpico em 1988 no salto com vara. De acordo com Cabral, nove dos 95 membros votantes foram comprados ao todo por US$ 2 milhões.

O depósito teria sido feito no exterior, no ano de 2008, pelo empresário Arthur Soares –conhecido como Rei Arthur, devido ao fato de ter sido o maior fornecedor de mão de obra do estado– ao presidente da Federação Internacional de Atletismo, Lamine Diack, que distribuiria o dinheiro aos membros comprados.

Nas redes sociais, Bubka negou qualquer propina. "Rejeito completamente todas as falsas alegações feitas pelo ex-governador do Rio, que está atualmente servindo uma longa sentença de prisão por corrupção", escreveu.

Popov também negou que tenha se beneficiado. "Para a grande pena da cidade do Rio e do ex-governador Sérgio Cabral, estou pronto a oficialmente declarar que, em primeiro lugar, não votei pelo Rio de Janeiro e, em segundo lugar, não participei de nenhuma negociação", disse.

"Não estou familiarizado com esses assuntos e com as pessoas mencionadas e nunca tive contato com eles", declarou.

Popov indicou que "considera necessário começar cooperação sobre esse assunto com  o Comitê de Ética do COI e estou disposto a prestar toda informação".

Ele, porém, indicou que está preparando um processo para "proteger seus direitos e dignidade" e que o apresentaria na Suíça.

De acordo com o COI, a direção de Ética e Compliance da entidade (CECO) "deu seguimento imediato" ao caso diante das alegações apresentadas por Cabral. "A CECO entrou em contato com os membros do COI mencionados em seu depoimento", indicou a entidade, com sede em Lausanne.

"O COI está completamente comprometido em lidar com qualquer tema, incluindo aqueles que ocorreram ainda das reformas da Agenda Olímpica 2020", disse.

"Com essas reformas, o COI virou a página em relação à boa governança e, em particular, o processo de eleição das cidades sedes", completou.

Pesadelo

Em 2009, quando o voto ocorreu para selecionar a sede de 2016, o então presidente do COI, Jacques Rogge, foi questionado em sua chegada ao evento se ele estava certo de que não haveria corrupção. Ele garantiu que o processo seria limpo.

Anos depois, tanto a escolha do Rio para 2016 como a de 2020 em Tóquio estão manchadas por suspeitas e acusações de corrupção.

Os escândalos que estão também sendo investigados na França afundaram ainda mais o movimento olímpico em uma crise de credibilidade, forçando a entidade a passar por uma reforma.

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Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)


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