Com Rio-2016 endividada, COI inaugura sede de R$ 568 milhões
Jamil Chade
22/06/2019 16h45
GENEBRA – Enquanto o Rio de Janeiro ainda pena para encontrar uma forma de arcar com a dívida deixada pelos Jogos Olímpicos de 2016, o COI inaugura neste domingo sua nova sede, com um custo de 145 milhões de francos suíços, o equivalente a R$ 568 milhões.
O projeto foi iniciado em 2012 e, coincidindo com a Rio 2016, as obras foram aceleradas. Considerado como um dos prédios mais ecológicos do mundo, a nova sede em Lausanne ainda será uma forma de demonstrar o vigor financeiro da família olímpica.
Inteiramente de vidro para dar uma sensação de transparência ao movimento pouco democrático do COI, o prédio venceu diversos prémios de arquitetura. Centenas de convidados estão sendo aguardados para as festas deste fim de semana, à beira do Lago Leman.
Os gastos com o novo prédio se contrastam, porém, com as condições nas quais os últimos Jogos Olímpicos foram deixadas.
No início do ano, o Comitê Organizador da Rio-2016 ainda acumulava uma dívida de R$ 450 milhões, centenas de processos trabalhistas e a recusa da prefeitura da cidade e do governo do estado em arcar com as dívidas.
O COI, ao longo dos anos, insistiu que já havia transferido aos organizadores brasileiros um volume suficiente de recursos e que o déficit não era mais de sua responsabilidade. No total, informes financeiro da entidade de 2017 revelam que, ao longo dos anos, o repasse aos organizadores brasileiros chegou a US$ 1,5 bilhão.
Mas principalmente depois da acusação contra o ex-presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, e seu afastamento do movimento olímpico, as contas da Rio2016 ficaram mesmo sobre a mesa dos dirigentes brasileiros.
Entre 2013 e 2016, números oficiais revelam que o COI acumulou uma receita de U$$ 5,7 bilhões, quase 8% acima do período anterior 2009-2012 e, em grande parte, graças ao incremento das vendas de direitos de TV para os Jogos do Rio.
Falta de Candidatos
A situação do Rio de Janeiro e as polêmicas envolvendo o esporte levaram a entidade a ver uma debandada importante de cidades que mantinham esperanças de sediar os Jogos de Inverno de 2026.
Nesta segunda-feira, o COI se reune para a escolher a sede. Mas a escolha se limita a duas opções: Milão ou Estocolmo.
Em votações populares, as candidaturas das cidades de Calgary, Sion e Innsbruck foram obrigadas a se retirar da corrida, diante da recusa dos habitantes em pagar pela festa. Outras quatro cidades abandonaram o processo para 2026 antes mesmo de serem avaliadas pelo COI.
Agora, diante da pressão popular, o COI quer reformar suas regras e passar a exigir que cidades realizem votações para consultar seus cidadãos antes de anunciar oficialmente suas candidaturas.
Sobre o autor
Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.
Sobre o blog
Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)