Merkel e líderes europeus pressionam por um acordo com Mercosul
Jamil Chade
21/06/2019 09h58
Carta assinada pela Alemanha, Espanha, Holanda e outros não teve a assinatura da França e da Itália, economias de peso dentro da UE
GENEBRA – Numa carta ao presidente da Comissão Europeia, Jean Claude Junker, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, lidera um grupo de sete chefes-de-governo que pressionam para que o bloco europeu feche um acordo com o Mercosul. A meta, entre outras, seria a de dar uma mensagem clara ao mundo de que o protecionismo não pode vingar.
O processo está em sua reta final, depois de 20 anos de negociações. O governo brasileiro aceitou fazer concessões em diversas áreas de interesse dos europeus. Mas, para que um acordo seja assinado, cabe a Bruxelas oferecer ao Mercosul uma abertura importante de seu mercado agrícola.
A resistência, porém, é importante dentro da Europa. Na Itália, o governo populista insiste que não tem como "rifar" seus pequenos agricultores, enquanto a França hesita em tomar uma decisão de maior abertura.
Num esforço para minar a resistência dentro da própria Europa, coube a países como a Alemanha a sair na defesa do acordo. Numa carta ao presidente Junker, Merkel e lideres como Pedro Sanchez, Antonio Costa e Mark Rutte destacam que o acordo com o Mercosul tem um valor que vai além de um simples tratado com países sul-americanos.
"A ameaça cada vez maior do protecionismo e outros factores geopolíticos estão pesando nas exportações", escreveram os líderes, alertando para o enfraquecimento do sistema multilateral. A guerra comercial entre Donald Trump e a China estará no centro do debate do G-20, na próxima semana no Japão,
"Nesse contexto, temos uma oportunidade história, uma oportunidade estratégica, de fechar um dos acordo mais importantes", disseram os europeus.
Merkel e os demais líderes apontam que, se concluído, o acordo transformará a UE no principal parceiro comercial do Mercosul, com acesso privilegiado a 260 milhões de consumidores. Carros, autopeças, máquinas e produtos químicos estarão entre os setores europeus que mais ganharão.
Na carta a Juncker, os chefes-de-governo pedem que a UE reconheça que o Mercosul fez gestos importantes, cedendo e abrindo setores fundamentais para os exportadores europeus.
Num recado claro aos demais países da UE que ainda resistem, Merkel e seus aliados alertam que, agora, está na hora de todos fazerem concessões. "Estamos numa encruzilhada. A UE não pode se dobrar a argumentos populistas e protecionistas", apontaram.
No documento, Merkel e os demais líderes pedem que Juncker "submeta ao Mercosul uma oferta equilibrada e balanceada que pavimente o caminho para a conclusão de um acordo".
Mensagem
Mas a carta é também um recado da importância estratégia que o acordo teria. "Tal marca mandaria uma mensagem clara à economia global a favor de um sistema comercial aberto, justo e com regras", disseram.
"Um acordo com o Mercosul não é apenas importante para a UE. mas também chave para o sistema multilateral", destacaram. "Ele pode mostrar aos nossos parceiros que o sistema funciona, mandando uma forte mensagem de que o comércio é benéfico se baseado em diálogo, cooperação e regras justas", disseram.
Aos chefes da Comissão Europeia, Merkel e os líderes insistem ainda que a situação hoje no Mercosul é favorável a um acordo. Mas insinuam que uma mudança política na região com as eleições na Argentina poderia fechar essa oportunidade.
"Temos que aproveitar o momento policio atual do Mercosul e não deixar que essa janela de oportunidade seja fechada", concluíram.
Sobre o autor
Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.
Sobre o blog
Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)