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Araújo publica foto com quadro de rei celebrado por ter derrotado islã

Jamil Chade

11/05/2019 17h45

 


GENEBRA – O chanceler Ernesto Araújo, que nesta semana fez um périplo por governos populistas de direita na Europa, publicou em suas redes sociais uma foto diante de um quadro do rei Jan Sobieski, em Varsóvia.

Em 1683, ele derrotou os exércitos otomanos, que avançavam para tomar Viena. Historiadores consideram que a vitória do monarca polonês deu início à derrota do império otomano pela Europa, freando sua expansão.

Mas várias obras e estudos rejeitam a ideia simplista de que, em Viena, o conflito era entre o apenas cristianismo e o mundo muçulmanos. O acadêmico Iam Almond, por exemplo, revela em uma obra de 2009 como protestantes e muçulmanos agiram de forma conjunta para tentar avançar em direção à cidade de Viena. Os otomanos ainda tinham como aliados no ataque o rei francês Luis XIV.

Nos últimos anos, porém, a vitória em Viena passou a ser usada pela extrema-direita europeia, como um sinal de que o continente deveria se unir contra a imigração, principalmente de muçulmanos.

Em Viena, um debate permeou a ideia de erguer, em 2018, uma estátua do rei polonês na capital austríaca.

Entre os políticos e atores conservadores da sociedade polonesa, o resgate da imagem do rei serve como um sinal de que a Polônia tem uma missão de proteger o cristianismo na Europa.

Steve Bannon, ex-conselheiro de Donald Trump, também citou, em um discurso, a vitória na batalha de Viena para dar um exemplo de como o islamismo deveria ser barrado na Europa.

 

Manipulação

Esse uso da figura do rei polonês, porém, deu sinais claros de ter saído do controle. Mais recentemente, o terrorista ultra-nacionalista que matou 50 muçulmanos na Nova Zelândia usou "Viena 1683" como uma das inspirações para cometer um massacre, no início do ano. Em uma foto de suas armas, que ele mesmo publicou nas redes sociais, o terrorista colocou a referência à batalha de Viena marcada em destaque em uma delas.

Em 2011, o extremista norueguês Anders Breivik, foi outro que usou "Viena 1683" como fonte de inspiração para cometer um atentado e defender sua posição anti-imigração.

O manifesto de Breivik se chamava "2083", como uma forma de comemorar os 400 anos da batalha vencida em Viena pelo rei polonês.

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Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)


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