Bancos estão na mira da Lava Jato na Suíça e no Brasil
Jamil Chade
08/05/2019 09h10
GENEBRA – Depois de investigar quem recebeu e quem pagou propina, agora uma parte do foco dos inquéritos no exterior e no Brasil relativos à Lava Jato se concentra em bancos e operadores que permitiram que os subornos pudessem ser transferidos. A suspeita é de que esses gerentes teriam sido fundamentais para criar um esquema para camuflar pagamentos e dificultar a identificação dos proprietários dos recursos.
Nesta manhã, no Brasil, o Ministério Público Federal lançou uma nova fase da Operação Lava Jato. Como alvo, o"esquema de lavagem de dinheiro praticado por altos funcionários" do Banco Paulista. Três mandados de prisão preventiva, sem prazo, foram expedidos. Segundo a força-tarefa da Lava Jato, os funcionários do banco investigados atuaram em operações de lavagem de dinheiro junto com a Odebrecht.
Fontes ligadas ao processo indicaram que as informações sobre a participação do banco estavam já com as autoridades brasileiras há mais de um ano. Mas a operação ocorre num momento de definição sobre a permanência ou não do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) nas mãos do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro.
O MP no Brasil não está sozinho na apuração do papel dos bancos. Na Suíça, as autoridades deixaram claro que, depois de investigar quem recebeu e que pagou propinas, a prioridade agora é a de saber de que forma os bancos locais também fizeram parte do esquema.
Num documento apresentado na semana passada m Berna, o Ministério Público da Suíça apontou que essa terceira fase já se iniciou em 2018, com a abertura de dois inquéritos contra instituições financeiras na Suíça.
Até hoje, mais de 20 bancos suíços foram alvos de um exame por parte das agências de regulação financeira. Três deles foram multados e inquéritos foram abertos contra gerentes e banqueiros. Mas as multas não passaram de US$ 5 milhões, um valor insignificante diante dos mais de US$ 1 bilhão congelados no país relativos ao escândalo brasileiro.
De forma inédita, esses bancos agora enfrentam processos criminais, numa verdadeira revolução silenciosa na Suíça.
No total, Berna encontrou e congelou mais de mil contas relativas aos suspeitos da Operação Lava Jato em mais de 42 bancos estabelecidos no país. A Suíça, porém, garante: não quer ser um porto seguro para a corrupção.
Sobre o autor
Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.
Sobre o blog
Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)