Governo americano hesita em cumprir promessa com Brasil na OCDE
Jamil Chade
07/05/2019 19h07
Trump e Bolsonaro se cumprimentam durante coletiva de imprensa na Casa Branca, em Washington (REUTERS)
GENEBRA – Diplomatas americanos se mantiveram em silêncio nesta terça-feira na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) sobre o apoio do governo de Donald Trump à adesão do Brasil à entidade. Os emissários da Casa Branca indicaram que não tinham instruções para apoiar oficialmente nas reuniões da OCDE a adesão do Brasil, frustrando os planos de Brasília.
O blog antecipou com exclusividade, na semana passada, que um impasse por conta da posição dos EUA estava colocando em risco o processo de entrada do Brasil ao clube dos ricos. Tal processo de adesão apoiado pelos americanos dependeria agora, segundo os EUA, de uma reforma mais ampla na entidade.
A organização realizou, nesta dia 7, sua última reunião de alto escalão antes de sua conferência anual, que ocorre no final do mês em Paris. O evento em três semanas era esperado como o momento para que o processo de adesão do Brasil fosse iniciado. Para marcar a data, estão sendo organizadas as viagens dos ministros Paulo Guedes (Economia) e de Ernesto Araújo (Relações Exteriores) para Paris, sede da entidade.
Mas, sem uma postura clara por parte dos americanos, pairam dúvidas agora se o processo para a entrada do País ao grupos conhecido como "clube dos ricos" de fato irá ocorrer neste mês.
Em março, Jair Bolsonaro deixou Washington com o trunfo de ter conquistado o apoio dos EUA para sua adesão à OCDE. Em troca, o Brasil abriu mão de seu status de país em desenvolvimento para futuros acordos na OMC e, nesta terça-feira, chegou a ser amplamente aplaudido pelo governo de Washington em Genebra.
Em conversas privadas, diplomatas americanos confirmaram ao Brasil que o apoio existe para a adesão. Mas, na prática, isso não se traduziu em uma nova postura na OCDE e não há prazo para que isso ocorra. O resultado é uma incerteza para a diplomacia brasileira.
Impasse
Também pesa o impasse existente entre americanos e europeus na entidade. Nos últimos anos, Washington não escondia sua insatisfação diante do desequilíbrio que existe do grupo, com uma participação elevada de europeus e, em teoria, poucos aliados da Casa Branca.
Para equilibrar o debate, portanto, Donald Trump sugeriu a adesão inicial de Argentina e, em seguida, a entrada do Peru. O bloco "americano" passou a incluir o Brasil, depois da visita do presidente Jair Bolsonaro para os EUA. Mas a referência ao País nunca foi colocado em um documento oficial pelos americanos na OCDE e, hoje, não anunciaram qualquer mudança em sua postura.
Do lado europeu, não existe uma rejeição à ideia da entrada do Brasil nem dos demais sul-americanos. Mas, para aceitá-los, a União Europeia insiste em querer mais três europeus no grupo –e que, por sinal, já estariam na fila antes: Croácia, Romênia e Bulgária.
Sobre o autor
Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.
Sobre o blog
Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)