Crise na Venezuela já fez cinco mortos, denuncia ONU
Jamil Chade
03/05/2019 05h37
GENEBRA – O alto comissariado da ONU para Direitos Humanos alerta que um total de cinco pessoas já foram mortas como resultado da crise na Venezuela em apenas dois dias.
A informação foi divulgada nesta sexta-feira, em Genebra, e se refere aos resultados de eventos nos dias 30 de abril e 1 de maio. Essa é a primeira vez que um levantamento independente é apresentado sobre os acontecimentos registrados no país sul-americanos.
Pelo menos dois dos assassinatos foram cometidos por indivíduos que fariam parte de milícias pró-governo. Entre os mortos, três são menores de idade. Um deles era um garoto de 15 anos, no estado de Mérida, além de outro de 16 anos em Aragua. Desde o início do ano, a ONU estima que 49 pessoas foram mortas no contexto de protestos.
De acordo com a entidade, 240 pessoas foram detidas neste período, incluindo 17 menores. Existiriam também 239 feridos nos últimos dois dias, dos quais 18 por bala. Já o governo indica que pelo menos oito soldados foram feridos.
De acordo com a ONU, dez jornalistas também foram alvos de ataques desde o início da operação liderada por Juan Guaidó. Pelo menos cinco jornalistas foram baleados.
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Desaparecimento
A entidade também afirmou estar preocupada com a situação de um parlamentar, Gilbert Caro, desaparecido desde a semana passada e supostamente detido pelas forças do governo. Até agora, porém, ele não foi levado diante de um tribunal para ser oficialmente acusado.
"O Alto Comissariado da ONU está muito preocupado com a detenção de Caro por membros do Serviço de Inteligência, no dia 26 de abril", indicou.
"Não apenas a prisão é uma violação de sua imunidade parlamentar, mas até agora não se sabe seu destino e onde se encontra", alertou. "Isso constitui um desaparecimento forçado, de acordo com o direito internacional". A entidade teme que ele seja torturado.
Caro já havia sido preso em 2017 e foi liderado apenas em junho de 2018. Quando a ONU visitou a Venezuela em março, o deputado foi um dos entrevistados pela equipe internacional.
Já na quarta-feira, a entidade denunciou o "uso excessivo da força cometido pelas forças de segurança contra manifestantes na Venezuela".
Segundo a porta-voz, Marta Hurtado, dezenas de feridos foram registrados, assim como "muitos outros detidos". "Fazemos um chamado a todas as partes para que mostrem máxima moderação e às autoridades para que respeitem o direito de reunião pacífica", declarou a porta-voz. "Também advertimos contra o uso de uma linguagem que incite à violência", disse o escritório, liderado por Michelle Bachelet, ex-presidente do Chile.
"Recordamos às autoridades estatais de sua obrigação de assegurar a proteção aos direitos humanos de todas as pessoas, sem importar sua filiação política", disse.
"Todas as partes devem renunciar ao uso da violência. Pedimos aos líderes políticos que estabeleçam discussões significativas para resolver a crise atual", completou Marta Hurtado.
Sobre o autor
Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.
Sobre o blog
Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)