Cientistas pressionam museu americano a cancelar evento com Bolsonaro
Jamil Chade
13/04/2019 06h53
GENEBRA – Cientistas, estudantes, funcionários e educadores do Museu Americano de História Natural se unem para tentar impedir que a instituição receba um evento em maio, em que o presidente Jair Bolsonaro será homenageado pela Câmara Brasileira-Americana de Comércio.
Numa carta à presidente do Museu, Ellen Futter, o grupo chama Bolsonaro de "fascista" e se diz "profundamente preocupado" com a possibilidade de que o local seja usado para homenagear "esse homem" que tem valores "diretamente em conflito" com os valores do museu.
"Na condição de comunidade de funcionários, estudantes, cientistas e educadores, pedimos que a administração do museu mantenha seus valores e cancele o evento", escreveram. Até a manhã deste sábado, a petição já contava com mais de 500 assinaturas.
"O Museu afirma ser um líder na proteção e promoção da biodiversidade o que completamente inconsistente com o ato de homenagear um presidente que pressiona por uma política anti-ambientalista agressiva", escreveram. O grupo lembra ainda que o governo brasileiro nega as mudanças climáticas e ameaça a Amazônia.
Na carta, os cientistas também denunciam Bolsonaro por seus ataques contra negros, indígenas e homossexuais. Para eles, o evento seria uma "mancha" para a reputação do Museu.
O grupo lembra que, quando o Museu Nacional foi destruído por um incêndio, Futter escreveu uma carta aos brasileiros indicando que a proteção de coleções é uma forma de proteger o futuro.
Em resposta, os cientistas alertaram: "uma das formas pelas quais podemos proteger o futuro das populações indígenas brasileiras, cientistas, cidadãos e esforços de conservação é recusando dar acesso à nossa casa institucional ao presidente fascista".
Em resposta, o Museu confirma que está avaliando a situação, enquanto políticos americanos e até o prefeito de Nova Iorque se mostraram contrários à presença de Bolsonaro
Há poucos dias, num entrevista a este blog, o embaixador brasileiro Rubens Ricupero já havia alertado: "É triste ter de admitir que o Brasil tem hoje um presidente que não é apresentável em quase nenhuma capital, talvez nem mesmo nessas que visitou".
Sobre o autor
Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.
Sobre o blog
Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)