Palestinos preparam protestos contra Bolsonaro
Jamil Chade
27/03/2019 04h00
Benjamin Netanyahu e Jair Bolsonaro se cumprimentam no Rio de Janeiro em dezembro do ano passado (Fernando Frazão/Agência Brasil)
A visita de Jair Bolsonaro ao líder israelense, Benjamin Netanyahu, promete ser alvo de protestos. A informação é de Raji Sourani, um dos principais ativistas palestinos e advogado em Gaza. Em 1991, ele foi o vencedor do prêmio de Direitos Humanos Robert F. Kennedy.
Em entrevista ao blog por telefone, o palestino explicou que uma manifestação em diversas cidades já estava organizada para 30 de março, um dia antes da chegada do brasileiro. Mas os protestos ganharão um componente de repúdio ao novo posicionamento do governo do Brasil no que se refere à questão palestina.
Bolsonaro prometeu mudar a embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém, violando resoluções do Conselho de Segurança da ONU e acenando com uma indicação de que o governo chancelaria a antiga reivindicação de Israel pelo controle da Cidade Sagrada.
Além disso, o Brasil deu fortes demonstrações de que passará a apoiar o governo de Netanyahu nos fóruns internacionais. Na semana passada, o Itamaraty modificou sua tradicional posição na ONU e votou contra os palestinos em resoluções no Conselho de Direitos Humanos.
"Um dos slogan desse protesto será o de condenar a atitude do Brasil", disse o ativista. "Jamais o povo palestino pensou que o Brasil adotaria tal postura", afirmou. "Estamos muito irritados com isso. Trata-se de uma decisão estúpida e que, acima de tudo, atende apenas ao interesse pessoal do presidente (Bolsonaro)", apontou.
Considerado como prisioneiro de consciência pela Anistia Internacional, Sourani ocupou cargos na Comissão Internacional de Juristas e fundou o Centro Palestino de Direitos Humanos. Em 2013, ele ainda recebeu o Right Livelihood Award, uma espécie de Prêmio Nobel alternativo.
"É vergonhoso e injusto que o maior país da América Latina tenha seguido esse caminho", insistiu. "O Brasil deveria dar o exemplo de respeito ao estado de direito, e não apoiar a ocupação e crimes", criticou Sourani.
"Por séculos, o Brasil foi uma colônia. E, agora, apoia um colonizador. Isso nem Kafka poderia explicar", completou.
Na semana passada, uma comissão de inquérito da ONU concluiu que Israel cometeu possivelmente crimes de guerra em suas operações em Gaza, em 2018. O Brasil, porém, foi um dos poucos países a votar contra a aprovação do informe.
Sobre o autor
Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.
Sobre o blog
Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)