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ONU pede “investigação independente” diante de assassinatos no Pará

Jamil Chade

24/03/2019 18h50

GENEBRA – A ONU pede que as mortes de líderes de movimentos sociais ocorridas na semana passada no Pará sejam investigadas de forma independente e alerta para o fato de que a responsabilidade pela defesa de ativistas é do estado.

O comunicado emitido pela entidade neste domingo se refere ao assassinato da coordenadora regional do Movimento dos Atingidos por Barragens, Dilma Ferreira Silva. O marido, Claudionor Costa da Silva, 42, e um homem identificado como Hilton Lopes, 38, também foram mortos.

Dilma estava entre as mais de 30 mil pessoas desalojadas de suas terras pelo lago da usina de Tucuruí, no rio Tocantins. A mortes ocorrem no dia 22 de março de 2019 em um assentamento na área rural de Baião, no Pará.

Dias antes da morte dos ativistas, a alta comissária da ONU para Direitos Humanos, Michele Bachelet, recebeu em Genebra outros representantes do mesmo movimento. A viagem havia sido realizada para chamar a atenção para a situação de milhares de famílias pelo Brasil que são vítimas de violações de direitos humanos causados por obras de barragens, inclusive em Brumadinho e Mariana.

Em Genebra, enquanto eles denunciaram as violações cometidas pelo Estado, a embaixadora do Brasil na ONU, Maria Nazareth Farani Azevedo, os ignorou e envio ao evento apenas um diplomata com um posto hierárquico mais baixo.

Num comunicado, o Escritório para América do Sul do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) "condena os assassinatos da defensora de direitos humanos e coordenadora regional do Movimento dos Atingidos por Barragem, Dilma Ferreira da Silva, de seu marido Claudionor Amaro Costa da Silva e de Hilton Lopes".

A entidade ainda pediu que as "autoridades brasileiras conduzam uma investigação completa, independente e imparcial sobre esses assassinatos, que leve a responsabilização dos autores do crime".

"Ao mesmo tempo, o Escritório relembra que o Estado brasileiro tem a responsabilidade de garantir a proteção integral das pessoas defensoras de direitos humanos no país para que possam cumprir com seu papel fundamental na sociedade, especialmente na defesa dos direitos das populações mais vulneráveis", completa a ONU.

Em Genebra, na semana passada, o Brasil foi um dos patrocinadores de uma resolução no Conselho de Direitos Humanos da ONU que pedia a defesa de ativistas de direitos humanos, inclusive os ambientalistas.

A entidade estima que o Brasil é o país que mais mata ambientalistas e líderes indígenas no mundo.

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Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)


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