Arsenal nas mãos de civis no Brasil é 6º maior do mundo
Jamil Chade
14/03/2019 04h00
Linha de produção da fabricante de armas Taurus, em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul (DIEGO VARA/Reuters)
Em uma proporção per capita, porém, taxa no Brasil está distante dos líderes
GENEBRA – Em números absolutos, o Brasil tem o sexto maior arsenal de armas do mundo na mão de civis. A constatação faz parte de um dos principais levantamentos realizados sobre a quantidade de armas leves em todo o mundo, elaborado pela entidade Small Arms Survey, com sede em Genebra.
Considerada como referência na coleta de dados sobre armas e usada até mesmo pela ONU (Organização das Nações Unidas) como bancos de dados, a entidade fez o cálculo a partir de dados de 2017 e o levantamento foi o primeiro a ser realizado em mais de uma década.
No total, a organização estima que existam 17,5 milhões de armas nas mãos de civis no Brasil. Desse total, a maioria não é registrada. Seriam 8 milhões registradas, contra quase 9,5 milhões sem registros.
A liderança mundial é dos EUA, com 393 milhões de armas, acima mesmo do volume de população do país. De fato, 46% das armas civis no mundo estão nas mãos da população americana.
Na Índia, as estimativas apontam para a circulação de 71 milhões de armas. A China vem em terceiro lugar, com 49,7 milhões de armas –49 milhões delas, porém, não são registradas. No Paquistão, os dados apontam para a existência de 43 milhões de armas. Ainda supera o Brasil a Rússia, com 17,6 milhões.
Em comparação ao tamanho da população, porém, coloca o Brasil distante dos líderes mundiais. No país, estima-se que existam 8,3 armas para cada cem pessoas. Nos EUA, são 120 armas para cada cem pessoas. O segundo colocado é o Iêmen, com 52 armas a cada cem pessoas.
O estudo alerta, porém, que não há uma correlação entre uma taxa elevada por população para a violência armada no pís. Na Suíça, por exemplo, são 27 armas por cem pessoas, contra 31 na Islândia e 34 no Canadá, todos países considerados como seguros.
Ainda assim, o volume em números absolutos no Brasil é considerado como elevado. O total no Brasil, por exemplo, é quatro vezes maior ao número de armas no Afeganistão, país que vive uma guerra há quase 20 anos. O Brasil também supera o México, onde 16,8 milhões de armas estariam nas mãos de civis.
O volume de armas com a população brasileira é 13 vezes superior ao total nas mãos das Forças Armadas no Brasil, com cerca de 1,3 milhão de armas. Entre os policiais federais e estaduais, o cálculo sobre o Brasil é que a quantidade de armas também está entre os sete maiores do mundo, com 803 mil armas.
No mundo, o estudo estima que existam 1 bilhão de armas, somando ainda aquelas nas mãos dos estados. Cerca de 85% delas, porém, estão em mãos de civis, contra 13% com militares e apenas 2% com forças policiais. Em dez anos, o volume de armas nas mãos das populações passou de 650 milhões para 857 milhões.
Sobre o autor
Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.
Sobre o blog
Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)