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Contra Maduro, governo Bolsonaro volta a abandonar reunião da ONU

Jamil Chade

07/03/2019 09h46

Ato de protesto ocorreu no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, num sinal de que Itamaraty e outras chancelarias da região não reconhecem governo de Maduro
GENEBRA – Pela segunda vez em duas semanas, o governo de Jair Bolsonaro opta por abandonar uma reunião da ONU por conta da presença do governo de Nicolas Maduro. Nesta manhã, em Genebra, Brasil e outros países latino-americanos se levantaram e deixaram a sala do Conselho de Direitos Humanos da ONU.

Isso ocorreu quando diplomatas venezuelanos tomaram a palavra para falar e propor uma resolução sobre o impacto nocivo de sanções econômicas. Além do Brasil, outros países do Grupo de Lima não reconhecem Maduro como representante legítimo do governo da Venezuela. Assim, no momento em que os venezuelanos tomaram a palavra, a delegação brasileira e outras se levantaram e deixaram o local, em protesto.

Na semana passada, o Brasil e cerca de outros 15 países também tomaram a iniciativa de abandonar um encontro da ONU no momento em que o chanceler venezuelano, Jorge Arreaza, subiu no palco do Conselho de Direitos Humanos para discursar e propor um encontro entre Maduro e o presidente dos EUA, Donald Trump.

Questionado sobre o ato de protesto dos demais governos diante de seus olhos, ele ironizou: "me contaram que isso teria ocorrido. Mas isso não importa".

Na quarta-feira, foi a vez da alta comissária da ONU para Direitos Humanos, Michelle Bachelet, alertar para a situação venezuelana. Segundo a chilena, a situação "ilustra claramente a forma pela qual violações de direitos civis e políticos podem acentuar o declínio de direitos econômicos e sociais". Ela, porém, alertou que a crise foi "exacerbada pelas sanções", num recado claro ao governo dos EUA que vem ampliando as medidas de retaliação.

Com o novo gesto de protesto, o Grupo de Lima e o governo brasileiro voltam a dar sinais de que não estão dispostos a negociar. Para o governo Bolsonaro, o presidente legítimo da Venezuela é Juan Guaidó.

Antes de se retirar da sala, a embaixadora do Brasil na ONU, Maria Nazareth Farani Azevedo, voltou a criticar Maduro. "O regime está atacando seu próprio país e condenamos a eleição fraudulenta de maio de 2018″, declarou.

Ela ainda "lamentou" a "pobreza generalizada", assim como a volta de doenças que tinham sido erradicadas. Prometendo continuar a receber venezuelanos, a embaixadora insistiu em fazer um apelo para que Maduro autorize "o acesso imediato" da ajuda internacional e a autorização para que Juan Guaidó possa organizar eleições presidenciais.

A diplomata ainda apelou à comunidade internacional para se unir aos "esforços para libertar a Venezuela".

Pela tarde, o governo da Venezuela voltou a tomar a palavra na ONU e, uma vez mais, o governo brasileiro deixou a reunião. " A ajuda humanitária que nos estão enviando tem como objetivo justificar uma invasão", declarou o embaixador venezuelano, Jorge Valero. "O que iam nos enviar eram alimentos contaminados e remédios obsoletos", completou.

 

 

 

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Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)


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