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Políticas de Direitos Humanos de governo Bolsonaro são denunciadas na ONU

Jamil Chade

04/03/2019 11h07

Grupos indígenas, defensores de direitos humanos, Jean Wyllys e mesmo sobreviventes de Brumadinho atingidos pelo colapso da barragem da Vale participarão de diferentes eventos nas Nações Unidas nesta semana.
GENEBRA – Uma semana depois do discurso da ministra de Direitos Humanos, Damares Alves, o governo de Jair Bolsonaro será alvo de uma ofensiva na ONU por parte de grupos indígenas, ativistas e vítimas de abusos de direitos humanos no Brasil.

A partir desta segunda-feira, debates em Genebra serão usados para questionar a versão apresentada por Brasília de que existe um compromisso do governo brasileiro com os "mais altos padrões de direitos humanos".

Nesta tarde, quem tomou a palavra para um discurso no Conselho de Direitos Humanos da ONU foi a liderança indígena Evanilson Karajá. "Ao contrário do que a ministra Damares afirmou neste Conselho, o discurso do ódio e o desprezo do governo pelos grupos indígenas resultou na mortes de nossos líderes, invasão de nossos territórios, o fim das demarcações e uma violenta política integracionista, divisionista, colonial e racista", declarou diante dos governos estrangeiros.

Em seu discurso na ONU na semana passada, Damares Alves garantiu que a situação indígena nacional receberia uma atenção especial por parte de seu escritório e chegou a terminar sua fala em tupi. O gesto deixou a liderança indígena indignada.

Segundo Karajá, a Funai "foi desmantelado porque o licenciamento ambiental, as demarcações e as políticas de consultas são considerados como obstáculos pela política econômica do governo". "O mais perverso é o incentivo do arrendamento de nossas terras, uma prática ilegal que visa a disponibiliza-la ao mercado em detrimento de nossa tradição", disse.

Karajá ainda pediu que um relator da ONU visite o Brasil para "constatar a degradação dos recursos e o quadro de violações".

Na quinta-feira, vítimas do colapso da barragem de Brumadinho também tomarão a palavra na ONU para denunciar a situação envolvendo os moradores da cidade em Minas Gerais. Damares, em seu discurso, também garantiu que o governo estava tomando medidas para endurecer os controles de barragens e dar assistência às vítimas.

No final da semana, será ainda a vez de Jean Wyllys, ex-deputador federal, relatar na ONU a situação dos defensores de direitos humanos e denunciar as políticas de direitos humanos do governo de Jair Bolsonaro.

A ministra de Direitos Humanos, num dos trechos de seu discurso, insistiu que os programas de proteção a defensores e ativistas seria ampliado no Brasil. Ela ainda garantiu que o orçamento havia sido ampliado nos últimos anos e que considerava que a proteção fornecida pelo estado era "eficiente".

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Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)


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