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Jamil Chade

Imprensa destaca reportagem do UOL e questiona ação de MP

Jamil Chade

05/10/2019 12h56

 

GENEBRA – As revelações publicadas pelo UOL, com base em dados obtidos pelo The Intercept Brasil, levam a imprensa suíça a questionar a cooperação entre os procuradores de Berna e de Curitiba e reabrem dúvidas sobre as ações do Ministério Público do país europeu, já sob duros ataques nos últimos meses.

Neste sábado, alguns dos principais jornais suíços – Tribune de Geneve, Tages Anzeiger, 24 Heures e outros – trouxeram reportagens sobre como a cooperação entre os ministérios públicos de Brasil e Suíça nem sempre foi realizada apenas por meio de canais oficiais. Mas também em conversas entre os procuradores, usando aplicativos de celular.

No dia 27 de setembro, o UOL publicou uma série em que mostrava como a Operação Lava Jato utilizou sistematicamente contatos informais com autoridades da Suíça e Mônaco para obter provas ilícitas com o objetivo de prender alvos considerados prioritários. Menções a esse tipo de prática foram encontradas com frequência em conversas entre 2015 e 2017.

Na imprensa suíça, a atenção dada ao assunto ocorre por conta de uma situação particular: o procurador-geral, Michael Lauber, chegou a ser investigado por ter mantido reuniões secretas com a Fifa, entidade que ele estava investigando.

Um dos órgãos de controle do Judiciário chegou a afasta-lo do caso Fifa e recomendou que ele não fosse reeleito. Mas, por uma margem mínima de votos no Parlamento, o procurador conseguiu renovar seu mandato.

Agora, a imprensa suíça se debruça sobre o papel do MP na Lava Jato.

Em sua reportagem, os jornalistas suíços indicam como as mensagens trocadas pelo então procurador Stefan Lenz e o brasileiro Deltan Dallagnol estariam "contornando as regras". No dia 6 de janeiro de 2016, o suíço informaria Curitiba por meio dos aplicativos sobre a descoberta de contas em nome do ex-deputado Henrique Eduardo Alves, no banco Julius Baer.

"Informação interessante. Mas tal troca é legal?", questiona a imprensa suíça. "Em princípio, dados dessa natureza, em especial bancárias, devem ser transmitidas pela via da cooperação judicial", indicam. "Um processo muito formal, pesado e lento, na qual os suspeitos podem recorrer por se opor à transmissão de informações", explicou. No caso da Petrobras, eles teriam sido burlados.

Os jornais suíços indicam como tanto o MP em Berna como Lenz insistiram na legalidade de seus atos. Mas a reportagem revela como as conversas entre os procuradores eram regulares pelos aplicativos.

Um caso específico que chamou a atenção da imprensa foi o uso de uma chave USB, entregue à Dallagnol em Lausanne, além da possibilidade de consultar o servidor paralelo da Odebrecht, também com sede em Genebra.

 

Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)