Entidade internacional e pesquisas desmontam tese de chanceler sobre clima
GENEBRA – Em maio, o chanceler Ernesto Araújo surpreendeu a muitos ao tentar justificar o aquecimento global a uma metodologia supostamente equivocada de se medir a temperatura do planeta.
"Não há um termostato que meça a temperatura global. Existem vários termostatos locais", explicou Araújo durante uma audiência na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputado.
"Nos Estados Unidos, foi feito um estudo sobre estações meteorológicas, e diz que muitas estações que, nos anos 30 e 40, ficavam no meio do mato, hoje ficam no asfalto, na beira do estacionamento. É óbvio que aquela estação vai registrar um aumento extraordinário da temperatura, comparado com a dos anos 50. E isso entra na média global", disse.
Mas cientistas da Organização Meteorológica Mundial (OMM) e pesquisadores que são considerados como referências sobre o debate relacionado com a coleta de dados desmentem essa tese.
"A OMM coloca critérios sobre estações de observação, especialmente para objetivos de clima, para que mantenham sua exposição o mais livre possível do impacto de prédios e de estruturas construídas pelo homem", explicou Omar Baddour, chefe da Divisão da Administração de Aplicação de dados da OMM.
"Análises globais agora omitem de forma rotineira estações que estejam claramente expostas aos efeitos urbanos ou ajustam as tendências de longo prazo para corrigir os efeitos urbanos", disse.
Na OMM, os cientistas admitem que o debate sobre o posicionamento dos termômetros chegou a fazer parte de estudos. Mas alertam que as pesquisas revelaram que os ajustes promovidos pelos especialistas são capazes de eliminar qualquer discrepância relacionada com uma variação. Além disso, na maioria dos casos, essas estações de coletas de dados não mostrariam grande variação entre locais próximos às cidades ou ao campo.
Uma das referências no assunto e consultado com frequência pela entidade internacional é o americano Thomas Charles Peterson, ex-presidente da Comissão de Climatologia e que passou sua carreira estudando a utilização precisa de dados. Peterson é considerado entre a camada de 1% dos cientistas mais citados pela Geoscience.
"Ao contrário da sabedoria geralmente aceita, nenhum impacto estatisticamente significativo da urbanização pode ser encontrado em temperaturas anuais", escreveu. "É postulado que isso se deve aos impactos micro e locais que dominam a ilha de calor urbana de meso-escala", explicou.
"As secções industriais das cidades podem muito bem ser significativamente mais quentes do que as zonas rurais, mas as observações meteorológicas urbanas são mais susceptíveis de serem feitas dentro de ilhas frias de parques do que nas regiões industriais", alertou.
O cientista recolheu dados coletados por diferentes outros estudos em diferentes partes dos EUA e do mundo para constatar que, entre 1880 e 1998, a série cronológica de temperatura global das estações "não foi significativamente impactada pelo aquecimento urbano".
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"Além disso, como comunidade, precisamos atualizar nosso entendimento sobre as ilhas de calor urbanas, para perceber que esse fenômeno é mais complexo do que se acredita por aqueles que não estão imersos no campo", defendeu.
"Algumas estações urbanas são de fato mais quentes do que as estações rurais próximas, mas quase o mesmo número é mais frio", alertou.
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Ajustes
Outro estudo que serve de referência é do pesquisador Zeke Hausfather, de 2013. Ele constatou que "a urbanização representa 14% a 21% do aumento das temperaturas mínimas não ajustadas desde 1895 e 6% a 9% desde 1960".
Mas também constata que, depois de procedimentos de correção para remover o sinal de calor urbano, os resultados mostraram que os cálculos dos últimos 50 a 80 anos não foram impactados.
Hausfather e outros cientistas como Kevin Cowtan, da Universidade de York, foram testar também se os procedimentos de ajustes estavam ocorrendo de maneira correta.
Uma nova rede de referência climática passou a ser construída a partir de 2001, nos EUA, justamente para que pudessem captar as temperaturas em locais sem o eventual impacto da urbanização. Depois de avaliar esses dados num período de dez anos, entre 2004 e 2015, os pesquisadores concluíram que os dados brutos e ajustados seguiam a mesma tendência e que a média da temperatura do solo nos EUA seriam muito próximos às referências.
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