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Jamil Chade

Populistas abrem polêmica ao chamar estrangeiros e esquerda de "vermes"

Jamil Chade

21/08/2019 15h49

 

GENEBRA – O Partido Popular Suíço (UDC), conhecido por suas táticas e campanhas de publicidade que beiram a ilegalidade, uma vez mais choca a Europa. Nesta semana, o partido lançou sua campanha para a eleição geral na Suíça.

Mas seu principal cartaz, espalhado por todo o país, apresenta uma maçã com a bandeira suíça. A fruta, que representa o país, está sendo alvo de vermes. "Vamos deixar a esquerda e os 'bonzinhos' destruir a Suíça", pergunta o slogan em sua versão em alemão. Na versão em francês, a outra língua oficial da Suíça, o ataque é ainda mais direto: "Vermes na nossa maçã? Não, obrigado!"

Cada um dos vermes representaria um grupo adversário, com um deles sendo vermelho, numa alusão aos grupos socialistas. Já outro vermes tem as cores da UE, além dos estrangeiros.

No texto, o cartaz ataca diretamente os estrangeiros e uma política supostamente de abertura excessiva conduzida na Suíça. "A esquerda e seus cúmplices destroem a segurança interna de nosso país ao deixar entrar na Suíça um número cada vez maior de estrangeiros, entre eles muitos criminosos".

O texto ainda alerta que são os estrangeiros quem mais se utilizam dos serviços de apoio social do estado.

 

Faltando dois meses para as eleições, o cartaz abriu um acirrado debate. Não faltaram comparações às estratégias dos nazistas que, nos anos 30, usaram justamente a imagem da maçã ameaçada e dos vermes para atacar os judeus.

 

 

O UDC, assim, repete a mesma estratégia de causar um choque com seus cartazes. Em 2007, o partido gerou duras críticas ao apresentar ovelhas brancas em um cartaz, chutando para fora da Suíça uma ovelha…negra. Naquela mesma eleição, outro cartaz trazia mãos negras e mulatas tentando roubar passaportes suíços.

Nos anos seguintes, algumas cidades do país chegaram a proibir o uso dos cartazes do UDC.

 

 

Se grupos de direitos humanos e partidos políticos denunciaram as imagens, não foram poucos dentro do próprio UDC que criticaram o tom da campanha de seu próprio partido.

Claudio Zanetti, parlamentar do UDC, foi às redes sociais para atacar seu partido. "O que você espera dessas imagens indescritíveis? Quem nos levará a sério?" Outro parlamentar do partido populista, Thomas Hurter, chamou o cartaz de "pura calúnia". Ao explicar a campanha, o UDC indicou que ela tem como meta realçar as ameaças que a Suíça enfrenta.

A campanha ainda tem outro objetivo: alertar ao cidadão sobre "os excessos do debate sobre o clima". Para o UDC, a questão das mudanças climáticas não deve ter o peso que se da hoje pela imprensa e cientistas.

Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)