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Jamil Chade

Brasil caminha para se transformar em pária ambiental

Jamil Chade

15/08/2019 17h57

AMSTERDAM -PHOTO MARTEN VAN DIJL / GREENPEACE

 

Governo Bolsonaro perdeu R$ 280 milhões em uma semana para projetos de proteção ambiental

 

GENEBRA – Sem entender o que representa a Amazônia para a sobrevivência do planeta, o governo de Jair Bolsonaro caminha para se transformar em uma espécie de estado pária, pelo menos no setor ambiental. Em apenas uma semana, Brasília perdeu mais de R$ 280 milhões que seriam destinados à proteção da floresta.

Mas, acima de tudo, os atos de congelamento de recursos de Noruega e Alemanha significam que a comunidade internacional entendeu que não poderá mais passar panos quentes ou amenizar o que está ocorrendo no Brasil.

Chegou a hora, para muitos deles, de tomar iniciativas e elas não e limitarão à suspensão de verbas. Governos europeus tem sido pressionados por suas respectivas opiniões públicas a e manterem distante do Brasil de Bolsonaro e isso, no fundo, pode significar perdas comerciais.

A recusa do governo em lidar com a realidade de sua floresta se contrasta com a prioridade que a Amazônia ganha pelo mundo.

No Parlamento Europeu, o debate que deu início ao processo de consultas para a ratificação do acordo comercial entre Mercosul e UE foi dominado por um só tema: a proteção da floresta. Eurodeputados pressionaram a Comissão Europeia por duas horas sobre como o bloco poderia agir para garantir que Bolsonaro mantenha seus compromissos ambientais.

Enquanto alguns sugeriam a criação de um "botão vermelho" para suspender o acordo em caso de desmatamento flagrante, outros insistiam que não se poderia premiar as exportações brasileiras num momento de destruição da floresta.

Assim, quando Bolsonaro proclama que a Amazônia é brasileira, ele tem razão. O problema é que essa soberania não protegerá nem a floresta e nem os interesses do país pelo mundo. Bolsonaro ironizou Angela Merkel e o governo de Oslo nos últimos dia. Mas o Brasil não terá como asfixiar o debate internacional.

Se o Brasil quer tanto mostrar quem manda na floresta, terá de mostrar ao mundo que ela não será derrubada. E não derrubar o diretor do instituto que mede o desmatamento.

De pé, a Amazônia promete ser o maior instrumento de barganha diplomática do Brasil no século 21. No chão, como eu já disse, seus troncos aprofundarão a cova onde estará enterrada a reputação do único país com nome de árvore.

Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)