Relatora da ONU diz que Bolsonaro é culpado por invasão de garimpeiros
GENEBRA – O presidente Jair Bolsonaro tem responsabilidade, ainda que indiretamente, pela invasão de terras indígenas no Amapá. O alerta é da relatora da ONU para os Povos Indígenas, Victoria Tauli-Corpuz. Numa entrevista exclusiva ao UOL por telefone de Manila, a especialista atacou de forma dura as políticas do atual governo.
No fim de semana, a Funai confirmou que invasores tomaram a terra indígena Waiãpi, no Amapá. Ao chegar ao local, os invasores teriam executado o líder Emyra Waiãpi. Os relatos da violência ganharam alguns dos principais jornais do mundo.
As invasões, porém, ocorrem depois que Bolsonaro afirmou que espera legalizar a mineração e garimpo em terras indígenas.
Para a relatora da ONU, o motivo da tensão no Amapá tem relação com a postura e declarações de Bolsonaro. "Um dos elementos é o fato de que o presidente tem feito anúncios de que terras indígenas podem ser usadas para atividades produtivas. Essa é uma das razões que explica a situação, além dos interesses econômicos sobre essas terras", disse.
Para ela, Bolsonaro tem responsabilidade na crise. "Ele é o chefe-de-estado e, ao fazer tais pronunciamentos nessa linha, então claro que esses grupos vão tentar controlar essas terras, invadir esses territórios", apontou.
Sua avaliação é de que o governo agora precisa agir. "As autoridades precisam enviar pessoas à região e impedir que os invasores tomem as terras", defendeu. "Trata-se de um ato ilegal e, portanto, é de responsabilidade do governo proteger o território", afirmou.
Ela também pede que a morte do líder seja alvo de um inquérito. "Deve haver uma investigação e os autores devem ser levados à Justiça", defendeu.
Victoria Tauli-Corpuz ainda pede que a comunidade internacional pressione o governo brasileiro e até mesmo que utilize acordos comerciais – como o tratado entre Mercosul-UE – para exigir uma resposta das autoridades nacionais diante da crise ambiental e da questão indígena.
"Espero que países pela Europa que fecharam esses acordos comerciais relembrem ao Brasil sobre suas responsabilidades e compromissos de direitos humanos e respeito aos direitos de indígenas, assim como proteger a Amazônia", afirmou.
"A proteção da Amazônia não é apenas um assunto do Brasil. Mas para todo o mundo. A comunidade internacional tem um papel a desempenhar nisso", insistiu. Há duas semanas, em conversa com jornalistas estrangeiros, o presidente se irritou diante de uma pergunta sobre a proteção da floresta e retrucou: "a Amazônia é nossa, não de vocês".
A relatora já fez viagens ao Brasil no passado e fez também duras críticas sobre a situação sob o governo de Dilma Rousseff. Mas, agora, ela alerta que a dimensão é "outra". "O que vemos agora é algo abrangente, com invasões. A extensão do que ocorre é outra", disse, apontando para a ação de garimpeiros, mineradoras e agricultores.
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