Depois de NY, franceses pressionam contra evento com governo Bolsonaro
GENEBRA – Depois de Nova Iorque, agora é Paris que registra a mobilização de ongs e ativistas contra a presença de representantes do governo de Jair Bolsonaro na capital francesa. Na próxima semana, o poderoso Ministério da Economia da França sediará um evento organizado por entidades patronais para promover oportunidades de negócios no Brasil. Entre os principais convidados está o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência da República.
Mas uma ação por parte de entidades francesas, brasileiras, suíças e belgas pede que o governo de Emmanuel Macron não ofereça "tapete vermelho à extrema direita do Brasil" em Bercy, nome dado ao local do Ministério da Economia, e que o evento seja cancelado.
A iniciativa está sendo liderada por entidades como Act Up-Paris, Amazon Watch, ATTAC, Centre de recherche et d'information pour le développement (CRID), Emmaüs International, France Libertés – Fondation Danielle Mitterrand, Planète Amazone e outras.
Além de um protesto formal, o grupo lançou nesta quarta-feira um abaixo-assinado e publicou uma tribuna no jornal Libération, um dos principais meios em Paris.
Há poucas semanas, foi uma ação que iniciou justamente pela sociedade civil que acabou contaminando a classe política de Nova Iorque e forçou Bolsonaro a não receber um prêmio na cidade americana. Depois de recusas de um museu e outro local para realizar o evento, o cerimónia acabou sendo realizada em Dallas.
Agora, o grupo europeu também pressiona. ""A exemplo da mobilização de cidadãs e cidadãos nova-iorquinos que obtiveram o cancelamento de uma cerimônia prevista para homenagear Jair Bolsonaro na metrópole estadunidense, manifestamo-nos contra a realização do VI Fórum Econômico França-Brasil 2019, previsto para ocorrer em 5 de junho e organizado pelo MEDEF internacional e seu parceiro brasileiro, a Confederação Nacional da Indústria (CNI), em locais do Ministério da Economia, em Bercy", anunciam.
"Façamos com que esse cancelamento seja condição prévia para a implementação de uma verdadeira política de apoio às populações ameaçadas no Brasil e de uma luta contra a extrema-direita", dizem.
"Nós, cidadãs e cidadãos franceses, franco-brasileiros e europeus, coletivos, associações e ONG, democratas brasileiras e brasileiros que vivem no Brasil ou no exílio, cidadãs e cidadãos dos Estados Unidos engajados, recusamos categoricamente a realização, nas instalações e com o apoio de um Ministério da República Francesa, de um evento incompatível com os valores da democracia", declaram.
Raoni
O grupo ainda lembra que o presidente Emmanuel Macron recebeu no Palácio do Élysée o chefe indígena Raoni e "ofereceu-lhe apoio francês para preservação da Amazônia".
Agora, segundo eles, os "convidados ao fórum são "eminentes" representantes dessas elites patronais que apoiaram no Brasil a campanha de Jair Bolsonaro bem como representantes da coalizão no poder, como o e responsável, no cargo, por gerir privatizações de empresas públicas brasileiras e "monitorar" ações de organizações da sociedade civil".
"Na página de divulgação do fórum, anunciam-se orgulhosamente às empresas francesas "oportunidades" econômicas ofertadas pelo Brasil após a chegada ao poder da extrema-direita, a qual conduz não só um programa de privatizações como procura escancarar a Amazônia para projetos industriais e extração de minérios", alertam.
"O fórum, que integra a programação oficial da Semana da América Latina e do Caribe na França, organizada pelo Ministério da Europa e das Relações Exteriores, contará com a participação da Secretária de Estado junto ao Ministro da Economia, Agnès Pannier-Runacher", apontam.
"O governo Bolsonaro e seus aliados de extrema direita defendem um projeto de criminalização dos movimentos sociais e de exclusão das minorias, de desmonte generalizado das políticas de proteção ambiental e de destruição dos direitos dos povos indígenas. Sua ideologia assenta-se em teses racistas, homofóbicas, misóginas e conspiratórias, incompatíveis com valores democráticos", atacam.
"Tal encontro representa uma forma de especulação sobre o colapso da democracia no Brasil, sobre a destruição da floresta amazônica e sobre a violação repetida dos direitos das populações indígenas. Ele contraria posições oficiais do Estado francês sobre questões democráticas, sociais e ambientais com as que se deparam atualmente os brasileiros", insistem.
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