Brasil e EUA boicotam reunião presidida pela Venezuela na ONU
GENEBRA – O governo de Jair Bolsonaro boicotou a reunião da Conferência de Desarmamento da ONU, presidida a partir desta terça-feira pelo governo da Venezuela. Os diplomatas brasileiros sequer foram ao encontro em Genebra, enquanto os representantes americanos optaram por estar presente no início da conferência e, em protesto, abandonar o local quando Jorge Varelo, embaixador da Venezuela, tomou a palavra.
O diplomata de Caracas qualificou o Brasil e os demais latino-americanos de "dóceis aliados" de Donald Trump. A decisão do Itamaraty, um tradicional membro da Conferência de Desarmamento, foi tomada em conjunto com os demais países do Grupo de Lima. O boicote, um ato diplomático significativo, não foi seguido por muitos países europeus.
A partir de hoje, o cargo da presidência do órgão será ocupado pelos representantes de Caracas, que terão a coordenação dos trabalhos internacionais por um mês sobre todos os aspectos relacionados com o desarmamento.
A decisão ocorre por conta de uma rotação obrigatória entre os países que fazem parte da Conferência. Até o mês passada, a presidência é dos EUA, país com o maior número de ogivas nucleares do mundo.
No início do ano, o governo americano já havia se recusado a permanecer na sala da ONU, em protesto contra a presença do embaixador de Maduro. Num ato simbólico, os governos dos EUA e do Grupo de Lima deixaram a sala enquanto o diplomata de Caracas tomava a palavra para fazer seu discurso.
Agora, a chefia dos trabalhos em mãos dos venezuelanos gera protestos entre os demais países que reconhecem Juan Guaidó, o auto-proclamado presidente interino.
"Não podemos deixar um estado pária liderar esse organismo", declarou o embaixador dos EUA, Robert Wood, ao deixar a sala. "O que estamos vendo ali são propagandas", insistiu. "Trata-se de um dia triste e não vamos aceitar que um governo ilegítimo presida sobre um assunto tão importante", disse.
"O regime Maduro está morto e precisa apenas deitar. 54 países não o reconhecem e quem deveria estar ali seria uma representante de Juan Guaidó", declarou o americano.
A ONU, porém, não tem como modificar a forma de reconhecimento de governos, principalmente diante do fato de Maduro ainda ser plenamente reconhecido por Rússia, China e dezenas de outros países.
"A ONU pode fazer o que ela quiser", disse Wood. "Trata-se de uma tirania e um regime corrupto", afirmou o americano. "A reunião não terá qualquer relação com desarmamento. Mas com ataques contra os americanos e contra a democracia", disse.
"Existe algo de muito errado sobre como admiramos nossos trabalhos quando situações como essa são permitidas", completou.
Dóceis aliados
Valero, em seu primeiro discurso, prometeu trabalhar para buscar o "consenso" entre os países e pediu que governos atuem de forma "respeitosa". "A paz mundial deve prevalecer", disse. O embaixador ainda solicitou que os demais representantes "evitem usar uma linguagem inapropriada ou não-diplomática".
"Lamentavelmente, o representante dos EUA e seus dóceis aliados continuam trazendo a esse fórum assuntos fora do mandato em questão", criticou. Segundo ele, a reunião estava sendo alvo de um "uso indevido" e que não seria o local para promover "opiniões golpistas".
Agradecendo aos demais países que estavam na sala, o diplomata indicou que "a maioria" dos governos ainda reconhece Maduro e denunciou uma tentativa de intervenção por parte de Trump.
Não é a primeira vez que a presidência vai para as mãos de um governo questionado internacionalmente. Há dois anos, foi a vez da Síria de Bashar al Assad, de assumir o órgão da ONU.
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