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Jamil Chade

Ativistas comemoram o cancelamento de viagem de Bolsonaro

Jamil Chade

04/05/2019 05h25

Jair Bolsonaro e Donald Trump em coletiva de imprensa na Casa Branca, em março (REUTERS)

 

GENEBRA – Ativistas americanos e brasileiros comemoraram a decisão do presidente Jair Bolsonaro de cancelar sua viagem à cidade de Nova York, onde receberia o prémio de "Pessoa do Ano" no dia 14 de maio.

Diplomatas estrangeiros ainda interpretaram a desistência como um sinal da debilidade da imagem do presidente em democracias onde a extrema-direita não esteja no poder.

Num comunicado, a maior entidade defensora dos direitos LGBTQ, a GLAAD, declarou que o cancelamento é uma "vitória para a comunidade LGBTQ no Brasil"."Essa notícia mostra que organizações, empresários e políticos locais ainda podem realizar uma mudança real", disse Sarah Kate Ellis, presidente da GLAAD.

A ação do grupo ainda contou com o apoio de um senador e de Debra Messing. Uma petição também somou 60 mil assinaturas, solicitando que o evento fosse cancelado em Nova York. Qualificando Bolsonaro como "bárbaro e horrível" em seu comportamento anti-gay, o grupo estima que o comportamento do brasileiro se assemelha ao posicionamento de Donald Trump.

Quem também comemorou foi a Amazon Watch, que reúne ativistas ambientais nos EUA. Nas redes sociais, o grupo indicou que o cancelamento da viagem mostra que " pressão sobre esse regime perigoso pode funcionar".

Uma coalizão de ativistas que iniciou uma ampla campanha em Nova York também comemorou. Mas, num comunicado, deixou claro que não vai se esquecer das empresas que, apesar da pressão, optaram por manter seu apoio ao evento. Entre elas estavam alguns dos maiores bancos do mundo, como UBS e Credit Suisse.

Diplomacia

Na Europa, a notícia foi recebida com surpresa por parte de diplomatas estrangeiros. Para alguns deles, ouvidos pelo UOL, o cancelamento é um "sinal ruim", já que mostraria a fragilidade do governo e como ele não aceita críticas.

Durante o governo de George W. Bush, lembram os europeus, o americano foi recebido sob fortes protestos a cada vez que pisava na Europa. Mesmo assim, manteve a maioria das viagens. Algo parecido ocorre com Trump.

"Se ele não estiver preparado para enfrentar a sociedade civil, a Europa dificilmente fará parte de sua agenda internacional", disse.

Também é notado entre as diplomacias estrangeiras o fato de que, por onde passa, Bolsonaro é alvo de protestos.

Em Davos, em janeiro, manifestantes levavam cartazes dele e de Benjamin Netanyahu, alertando que não eram bem-vindos na Suíça. Entre os palestinos, protestos também ocorreram em sua visita à Israel. No Chile, o cenário foi parecido.

Grupos radicais na Alemanha e Nova Zelândia ainda vandalizaram ou invadiram as embaixadas do Brasil, em protesto contra o presidente.

Nos últimos meses, Bolsonaro tem alertado que cabe aos embaixadores do Brasil no exterior não apenas defender a imagem do país. Mas também agir para desfazer a percepção internacional sobre ele.

Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)