Adesão do Brasil à OCDE esbarra em impasse diplomático
Apesar das promessas, governo dos EUA ainda não transformou em orientações políticas de apoio ao Brasil nas reuniões da OCDE
GENEBRA – O governo de Jair Bolsonaro deixou Washington em meados de março com o trunfo de ter conquistado o apoio dos EUA para sua adesão à OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o grupo dos países ricos. Mas um impasse entre americanos e europeus ainda impede que haja um acordo para que o processo possa ser iniciado.
No final de maio, a OCDE realiza sua reunião anual e a esperança do governo brasileiro é que o processo formal de adesão seja oficialmente anunciado. Para marcar a data, estão sendo organizadas as viagens dos ministros Paulo Guedes (Economia) e de Ernesto Araújo (Relações Exteriores) para Paris, sede da entidade.
Mas, mesmo com a declaração de apoio americano, ainda não há uma garantia que o Brasil possa comemorar o início da adesão neste mês. Para que o processo seja iniciado, americanos e europeus terão, primeiro, de superar um impasse entre eles.
Nos últimos anos, Washington não escondia sua insatisfação diante do desequilíbrio que existe do grupo, com uma participação elevada de europeus e, em teoria, poucos aliados da Casa Branca.
Para equilibrar o debate, portanto, Donald Trump sugeriu a adesão inicial de Argentina e, em seguida, a entrada do Peru. O bloco "americano" passou a incluir o Brasil, depois da visita do presidente Jair Bolsonaro para os EUA.
Do lado europeu, não existe uma rejeição à ideia da entrada do Brasil nem dos demais sul-americanos. Mas, para aceitá-los, a União Europeia insiste em querer mais três europeus no grupo –e que, por sinal, já estariam na fila antes: Croácia, Romênia e Bulgária.
Promessas
A proposta, porém, não tem ainda o sinal verde de Washington. Fontes da UE confirmaram ao UOL que, apesar do anúncio de Bolsonaro e Trump de que existe um apoio americano à adesão do Brasil, a decisão política de Washington ainda não foi transformada em orientações específicas para que a missão americana na OCDE mude seu discurso.
A expectativa dos diplomatas é que, no dia 7 de maio, uma reunião em Paris possa sinalizar uma eventual nova posição dos EUA. Os sul-americanos também indicam que, apesar do encontro em Washington em meados de março, os emissários da Casa Branca ainda aguardam instruções sobre como devem agir na OCDE.
Caso haja uma sinalização por parte dos americanos de que estariam dispostos a aceitar seis novos membros na entidade, o período entre o dia 7 e 22 de maio seria utilizado para construir um acordo. Se houver avanços, o chanceler Ernesto Araújo e Paulo Guedes poderiam fazer a viagem até a capital francesa. Caso contrário, o encontro teria apenas a participação do chefe da diplomacia brasileira.
O apoio americano à adesão do Brasil foi anunciado pelo governo de Bolsonaro como uma das grandes conquistas da viagem do presidente aos EUA, em março. Em troca, o Brasil abriu mão de flexibilidades em acordos da OMC (Organização Mundial do Comércio), que teria direito por ser um país em desenvolvimento. China e Índia, nos bastidores, criticaram duramente o Brasil pelo gesto.
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