Nos bastidores, ONU teme conflito, repressão e onda de refugiados
GENEBRA – A tensão em Caracas desde o início da manhã desta terça-feira deixou a ONU em estado de alerta. Oficialmente, a única declaração foi emitida pelo porta-voz do secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, indicando que a entidade estaria disposta a mediar um diálogo.
Mas, nos bastidores, fontes de diferentes organismos confirmaram ao UOL que o cenário mais temido começa a se tornar realidade: o de um confronto armado aberto, provocações externas e uma repressão de um governo que se recusa a abrir mão do poder.
Num dos cenários examinados pela ONU, uma eventual guerra civil com apoio de mercenários externos ou uma repressão ainda maior por parte do governo de Nicolas Maduro aprofundariam ainda mais a crise humanitária. O resultado seria a fuga de milhares de pessoas para a Colômbia, Brasil, Peru ou Caribe.
Mesmo representantes de Guaidó admitiram que, em caso de uma derrota, temem serem alvos de uma resposta "sem pena" por parte de Caracas, com a abertura de um período de violações e caça a pessoas ligadas a qualquer tipo de oposição.
Desde 2015, três milhões de venezuelanos já deixaram o país. Mas, sem uma solução, o temor é de que outros 2 milhões tomariam a estrada nos próximos meses, criando um cenário inédito na história recente da América do Sul.
Nesta terça-feira, em Genebra, a crise era alvo de conversas nos corredores, em reuniões secretas e em dezenas de ligações entre a cúpula da entidade.
O UOL apurou que, desde janeiro quando Juan Guaidó foi reconhecido como presidente legítimo por vários governos estrangeiros, o Programa Mundial de Alimentação passou a se posicionar de forma estratégica nas fronteiras Venezuela para uma eventual operação.
Na OMS, fontes do mais alto escalão também confirmaram que a opção foi a de permanecer em silêncio para não provocar o governo de Nicolas Maduro e, assim, continuar a operar dentro do país. Caracas ainda fechou acordos com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha e chegou a aceitar a visita de um grupo de especialistas do Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos.
Agora, o novo cenário será alvo de um debate nesta quarta-feira, na sede da ONU em Genebra, entre representantes do governo de Guaidó e embaixadores do Grupo de Lima.
No caso de uma guerra civil ou um confronto armado, o temor da entidade é de que países já saturados de venezuelanos vivam um início de uma desestabilização em certas regiões, diante do novo fluxo.
Em dezembro, a ONU havia apresentado um plano de ajuda aos refugiados e imigrantes venezuelanos, estimando que a operação custaria US$ 700 milhões. Até meados de abril, a entidade havia recebido apenas 25% desse valor.
Durante todo o dia, embaixadores do governo venezuelano e representantes de Guaidó proliferaram reuniões e contatos com missões estrangeiras na ONU, cada qual na esperança de conseguir respaldo internacional.
Solução Política
Ecoando ao apelo da ONU, a chefe da diplomacia da Europa, Federica Mogherini, afirmou que a crise na Venezuela apenas pode ser solucionada de forma "pacífica, política e democrática". "A UE rejeita qualquer forma de violência", disse, apelando para que as partes evitem ações que resultem em perdas de vida e aumento da tensão.
"A UE está ao lado do povo venezuelano e de suas aspirações democráticas legítimas", completou a italiana, insistindo que continua a ver uma eleição livre e justa como a única forma de superar a crise.
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