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Jamil Chade

Guaidó busca respaldo do Brasil para legitimar operação

Jamil Chade

30/04/2019 08h50

Militares venezuelanos impendem a circulação de pessoas e veículos na fronteira com Pacaraima, RR (Ricardo Moraes/Reuters)

GENEBRA – Representantes designados por Juan Guaidó iniciaram no Brasil, Colômbia e nas Nações Unidas um intenso trabalho nos bastidores para conseguir um respaldo internacional à operação que está sendo conduzida nesta manhã, em Caracas.

O UOL apurou que seus representantes espalhados em capitais estratégias estão já em contato com os embaixadores do Grupo de Lima para informar da ofensiva. O objetivo é o de contar com os demais governos para pressionar a comunidade internacional a reconhecer o novo governo venezuelano e uma eventual queda de Nicolas Maduro.

O que também se pede é que o respaldo venha seguido por um alerta a Maduro para que não haja uma repressão contra o movimento e eventualmente um confronto aberto pelas ruas de Caracas.

Diplomatas também confirmaram que estão avaliando a realização de uma reunião de emergência na ONU, enquanto a entidade afirma estar atenta ao impacto humanitário que um confronto aberto poderia ter.

Segundo o UOL apurou, Moscou está também considerando realizar uma declaração, mas para denunciar um golpe e respaldar Maduro.

Controlado ?

Pedro Luis Pedroso, o embaixador de Cuba na ONU, classificou os atos de Guaidó nesta terça-feira como "um golpe de estado" e sugere que existia um envolvimento dos EUA na operação.

"Viemos de um passado terrível na América Latina, com ditaduras fascitas. Esse é o passado que o americanos querem retomar?", questionou o diplomata, em Genebra. "A região não conta com uma guerra pelos últimos 50 anos. A América Latina é uma das primeiras regiões do mundo livre de armas nucleares. Somos uma região de paz. Mas parece que isso não gera dividendo para aqueles que querem dominar", denunciou.

Pedroso alerta que, pelas informações que dispõe, a tentativa de golpe está "totalmente controlada". "Eram apenas uns quatro ou cinco (soldados)", ironizou, sobre o número de soldados que estariam apoiando Guaidó.

Segundo ele, não se deveria descartar a possibilidade de que o ato seja uma forma de "abrir caminho para uma agressão armadas contra Venezuela".

"Todos sabem a implicação de uma ação desesperada do governo americano para toda a região. Uma intervenção teria ramificações na América Latina", alertou.

"A história da América Latina está manchada das mentidas do governo americano", insistiu.

Embaixador de Cuba na ONU, Pedro Luis Pedroso. Foto: Jamil Chade. Genebra/2019.

Nas primeiras horas da manhã, Guaidó conclamou o povo a tomar as ruas, depois que anunciou que militares se uniram à oposição. Já o governo de Nicolas Maduro insiste que o movimento é pequeno e que se trata apenas de "traidores da pátria", numa referecia aos soldados que estariam ao lado de Guaidó.

Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)