100 dias de certezas absolutas
GENEBRA – Num mundo repleto de incertezas, é surpreendente a existência de verdadeiras milícias de pessoas com tantas certezas.
Por algum tempo, eu os invejava. Pensava que, certamente, dormiam mais tranquilos, acordavam sabendo para onde iriam, como iriam e o que fariam quando chegassem la.
Eram pessoas que tinham todas as respostas para a conspiração das mudanças climáticas, para o perigo dos terroristas disfarçados de refugiados. Davam receitas a crise em países distantes sem jamais terem pisado la, condenavam do alto de um púlpito o modosde vida diferente ao seu e até tinham sugestões infalíveis para acabar com o jejum do meu time.
O problema é que essas certezas não existem e apenas servem para alimentar uma intolerância macabra.
Ouso dizer que vejo mais em comum num socialista capaz de ver os crimes de Maduro e um liberal que sabe o sofrimento causado pelo capitalismo que diferenças fundamentais.
Talvez o mundo não esteja só dividido entre comunistas e capitalistas. Talvez xingar comunistas – como sugere o novo ministro da Educação – não seja a solução.
Talvez o mundo não esteja só dividido entre judeus e árabes. Talvez visitar um só lado do muro não sirva para nada.
Talvez a sociedade, no fundo, esteja dividida entre os que desfilam com suas certezas absolutas e os que questionam, num novo paradigma de uma comunidade de destino.
Talvez o oposto ao conhecimento não seja a ignorância. Talvez o contrário do conhecimento seja a certeza dogmática, que flerta com a arrogância.
Talvez seja essa certeza que, levada a seu apogeu, justifique massacres por parte de ditaduras de esquerda ou direita. Certezas que fundamentam movimentos extremistas.
Talvez, depois de cem dias, tenha ficado claro que problemas complexos têm soluções complexas. E que vendedores de ilusões com suas guerras imagináveis contra o marxismo cultural descubram que a realidade os está atropelando sem perdão.
Só talvez.
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