Partido pede que Merkel retire status de parceiro estratégico do Brasil
O Parlamento alemão, o Bundestag (Fabrizio Bensch/Reuters)
Posições de Bolsonaro sobre direitos humanos criam debate na Europa e geram pressões por parte de grupos de esquerda.
GENEBRA – O governo de Angela Merkel é cobrado por grupos de esquerda para que retire do Brasil o status de parceiro estratégico que tem com a Alemanha. A informação foi dada ao blog por membros do partido Die Linke, de esquerda. O motivo: as posições controversas do presidente Jair Bolsonaro sobre direitos humanos.
"Pedimos ao governo federal da Alemanha que mande uma mensagem clara e que cumpra suas responsabilidades em termos de direitos humanos, suspendendo, por exemplo, a parceria estratégica com o Brasil", declararam Katja Kipping e Bernd Riexinger, ambos do partido.
A relação estratégica entre os dois países foi estabelecida em 2002. Em 2015, novas iniciativas foram criadas entre Merkel e Brasília, reforçando essa parceria.
Para os deputados do partido Die Linke, além das declarações em relação a ativistas, foi a ordem de Bolsonaro de comemorar o golpe de 1964 o ponto que exigiu uma ação. Chamando o presidente brasileiro de "fascista", o partido alertou que o "engajamento político hoje no Brasil pode colocar a vida em risco".
"Bolsonaro ameaça limpar os esquerdistas e, ao comemorar a ditadura, ele comemora assassinos e torturadores", declararam. "Isso é tão nojento e desumano que é quase impossível encontrar palavras", atacaram, apontando que o partido permanece solidário com as "forças progressistas, indígenas, LGBT" e outras minorias.
Com 69 assentos no Parlamento alemão, o partido tem uma representação menor que o CDU de Merkel, com 246 parlamentares eleitos e inferior aos 153 assentos do Partido Social-Democrata.
Consultados, membros do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha admitem o "mal-estar" causado pelas declarações de Bolsonaro. Mas, com o objetivo de defender os interesses das empresas alemãs no Brasil, por enquanto nenhuma medida radical deve ser adotada.
Ainda em 2018, a então presidente do Grupo Parlamentar Teuto-Brasileiro no Bundestag (Parlamento alemão), a deputada Yasmin Fahimi, alertou que não haveria condições de manter a parceria estratégica com o Brasil se Bolsonaro fosse eleito.
Mas, com exportações de mais de US$ 9 bilhões ao Brasil em 2017 e investimentos bilionários acumulados, os cálculos de Berlim são de que qualquer atrito neste momento permitia que contratos lucrativos caíssem rapidamente nas mãos de empresas dos EUA, apontado como o parceiro estratégico de Bolsonaro.
Hoje, cerca de 1.600 empresas alemãs no Brasil respondem por 8% do PIB industrial brasileiro.
No Partido Social-Democrata que faz parte da coalizão de Merkel no governo, a palavra "mal-estar" também é usada por alguns de seus membros para explicar a relação com o Brasil. Merkel, antes mesmo de o governo iniciar, já havia alertado em 2018 que a chegada ao poder de Bolsonaro poderia dificultar o acordo entre a União Europeia e o Mercosul.
Mas, segundo fontes em Berlim, a diplomacia alemã não pretende romper com Bolsonaro e busca um equilíbrio entre preservar seus interesses e defender posições sobre direitos humanos.
O equilíbrio entre os interesses comerciais e a defesa dos direitos humanos também é um debate dentro do governo francês de Emmanuel Macron. Desde o ano passado, Paris passou a ver o governo Bolsonaro com um certo desconforto.
Numa nota emitida depois das eleições, o governo Macron deixou claro que a parceria entre os dois países gira em torno dos "valores comuns de respeito e promoção de princípios democráticos" e que seria com base nisso que Paris manteria a cooperação com o Brasil.
Mas o brasileiro afirmou que "quem é favorável ao socialismo deve olhar para a experiência da França, que abriu suas fronteiras a todo tipo de refugiado". E ainda completou: "É um mau exemplo".
O próprio Macron havia alertado que o acordo comercial entre a UE e o Mercosul apenas poderia ocorrer se o Brasil se comprometesse em permanecer no Acordo Climático.
Também em 2018, o brasileiro havia descrito a situação na França como "insuportável" diante da presença de imigrantes. Nas redes sociais, foi o embaixador francês nos Estados Unidos, Gérard Araud, quem respondeu, citando os índices de violência nos dois países.
"63.880 homicídios no Brasil em 2017, 825 na França. Sem comentários", escreveu o embaixador nas redes sociais, difundindo uma reportagem descrevendo as declarações de Bolsonaro. O diplomata ocupa um dos cargos mais importantes da chancelaria francesa desde 2014. Antes, havia sido o embaixador da França na ONU, outro cargo de prestígio na carreira.
Mas Paris tem sido pressionada a não dar respostas duras ao governo brasileiro, principalmente diante das perspectivas de gastos militares importantes da gestão de Bolsonaro.
Como um dos principais fornecedores de equipamentos militares no mundo, os franceses não escondem que querem uma parte dos futuros contratos brasileiros e não descartam enviar uma missão liderada pelo ministro de Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian, ao país ainda no primeiro semestre de 2019.
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