Brasil perde espaço entre os maiores exportadores do mundo
Diante de tensão, OMC revê para baixo previsão de expansão do comércio mundial em 2019 e alerta para riscos de guerra comercial.
GENEBRA – O Brasil continua a perder espaço entre os maiores exportadores do mundo. Dados da Organização Mundial do Comércio (OMC) revelam que, mesmo com um aumento de vendas, o Brasil caiu da 26a posição para o 27o lugar entre os maiores exportadores do mundo em 2018. Entre os importadores, o País passou da 29o para a 28o posição.
As estimativas é de que, em alguns setores, a guerra comercial entre americanos e chineses beneficiou o Brasil. Em vendas, portanto, o País registrou um aumento de 10% em 2018, também ajudado pela expansão dos preços de commodities. A taxa de crescimento no País ficou dentro da média mundial, que também registrou uma expansão em valores de 10% em 2018.
No total, o Brasil exportou US$ 240 bilhões e viu um aumento de 35% de suas vendas para a China. Em grande parte, essa venda foi composta pela soja, substituindo o produto americano.
Mas, ainda assim, o Brasil caiu no ranking e foi superado pelo Vietnã, além de Malásia, Arábia Saudita e outras economias.
Em termos de participação no mercado internacional, o Brasil manteve uma fatia de 1,2%, a mesma taxa estagnada desde 2016. Hoje, Polônia, Austrália ou Tailândia já exportam mais que o Brasil ao mundo. O País, que chegou a ser o 22º maior exportador do mundo, previa estar entre os 20 primeiros no ranking internacional, que nunca ocorreu.
Nessa classificação da OMC, a líder é a China, com US$ 2,4 trilhões em vendas em 2018. Os americanos aparecem com US$ 1,6 trilhão.
Na avaliação do diretor-geral da OMC, Roberto Azevedo, os resultados mostram que o Brasil precisa ter uma "maior participação e maior integração na economia mundial". Sua sugestão é de que as empresas nacionais não pensem apenas no mercado doméstico, mas também no mercado internacional.
Em volumes, as exportações brasileiras seguem crescendo, com aumento de 4,7% em 2018 – ainda que abaixo do crescimento de 6,9% de 2017.
Importação – Já o fim da recessão no Brasil permitiu, de fato, que as importações voltassem a aumentar, depois de três anos de contração nas compras de bens estrangeiros. No ano passado, elas aumentaram em 19,8%, atingindo US$ 189 bilhões. Para os economistas da OMC, a recuperação do comércio tem uma relação direta com o comportamento da economia e o aumento das compras seria mais um sinal do fim da recessão.
A taxa de expansão em valores de quase 20% é duas vezes maior que a média mundial, permitindo que o Brasil se posicione na 28a colocação .
Em volume, o crescimento de importações foi de mais de 11%, taxa duas vezes maior que o restante da América do Sul.
Em 2016, a recessão no Brasil levou o País a sofrer a maior queda de importações entre as grandes economias do mundo. A contração, segundo a OMC, já havia começado em 2014 e 2015.
Em 2016, a queda foi de quase 20% nas importações, bem acima da média de uma redução de 3% no mundo. O resultado, de US$ 143 bilhões, levou o Brasil a despencar no ranking dos maiores importadores. Em 2013 e 2014, o Brasil aparecia na 21a posição entre as economias que mais importavam. Ao final de 2016, o País estava na 28ª posição, superado até mesmo pela pequena economia da Áustria.
Queda – Para 2019, a OMC estima que a guerra comercial lançada por Donald Trump terá seu impacto no fluxo de comércio. A estimativa em abril de 2018 era de que, para este ano, a expansão fosse de 4%. Em setembro, ela já havia sido revista para 3,7%. Agora, a nova previsão é de apenas 2,6%
A taxa é inferior à média de 3% em 2018, um ano já considerado como ruim para o comércio. A previsão para 2019 significa um crescimento uma redução pela metade da taxa de 2017, quando a expansão foi de 4,6%.
Uma volta do crescimento apenas ocorreria em 2020 e, mesmo assim, com uma expansão pequena de 3%. "Com a tensão elevada no comércio, ninguém deveria estar surpreso por essa previsão", declarou Roberto Azevedo, diretor-geral da OMC, que cita ainda o "alto nível de incerteza".
Sua avaliação é de que as tensões comerciais representam o maior risco para essa previsão. Já em fevereiro, os dados mensais do comércio apontaram para o pior resultado em nove anos. "Não estamos em boa forma. Se a tensão continuar, isso pode afetar ainda mais o comércio", alertou.
Azevedo admite que grande parte da tensão vem do confronto entre China e EUA, que aplicaram tarifas mútuas no valor de US$ 350 bilhões. Em todo mundo, as barreiras atingiram US$ 481 bilhões, seis vezes o volume registrado um ano antes.
Novas tarifas sobre carros e o Brexit podem elevar ainda mais a tensão. "Não acho que haverá um ganhador e um perdedor. Teremos muitos perdedores. Podemos ter ganhadores setoriais. Mas o resultado liquido para consumidores e para a comunidade internacional é negativo", alertou.
O caminho para superar a crise dependente do fortalecimento da OMC. "É cada vez mais urgente que possamos resolver as tensões e focar em desenhar um caminho positivo para o comércio internacional que possa responder aos desafios reais da economia de hoje, como a revolução tecnológica", declarou o brasileiro.
Para Azevedo, o enfraquecimento do sistema de regras seria um "erro histórico", com repercussão para empregos, crescimento e a estabilidade para o mundo.
Em 2018, além da guerra comercial, a fragilidade da demanda de importação da Europa e Asia também explicam os resultados fracos.
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