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Jamil Chade

Sexismo ganha sua primeira definição internacional

Jamil Chade

28/03/2019 12h50

GENEBRA – O fenômeno é tão antigo como a humanidade. Mas apenas agora ganha sua primeira definição internacional, justamente para que possa ser combatido. Nesta quinta-feira, o Conselho da Europa concluiu um trabalho de meses e publicou o que seria o primeiro texto de caráter internacional para definir o sexismo e recomendações para supera-lo.

O sexismo, portanto, é uma "manifestação de relações de força historicamente desiguais (entre homens e mulheres) e que leva à discriminação e impede a plena emancipação de mulheres na sociedade".

O Conselho da Europa é uma espécie de orgão de fiscalização da situação de direitos básicos no continente e sua recomendação foi enviada aos mais de 40 países que fazem parte da entidade.

Na avaliação de seus especialistas, o fenômeno não está isolado em apenas algum setor da sociedade e nem a classes sociais. O problema existe "em todos os setores e todas as sociedades".

Detalhado, o texto traz com exemplos situações em que sexismo é aplicado, desde a publicidade ao serviço público. Mas a linha que as une é o 'a continuidade de agressões", criando um "clima de intimidação, medo, discriminação, exclusão e insegurança".

Assim, o Conselho estipula que sexismo é "qualquer ato, gesto, representação visual, palavra escrita ou falada, prática ou comportamento baseado na ideia de que uma pessoa ou grupo é inferior por conta de seu sexo". Tais situações podem ocorrer "em público ou privado, online e offline", com o objetivo de:

i.   Violar a dignidade ou direitos de uma pessoa ou grupo de pessoas.
ii.   Resultar em sofrimento ou dano físico, sexual, psicológico ou sócio-econômico.

iii.  Criar um ambiente de intimidação, hostil, degradante, humilhante ou ofensivo.

iv.  Constituir uma barreira para a autonomia ou plena realização dos direitos humanos de uma pessoa.

v.   Manter ou reforçar estereótipos.

O texto ainda traz dezenas de recomendações e reformas na lei para condenar o sexismo, criminalizar o discurso de ódio com base no sexismo e dar mecanismos de respostas para suas vítimas.

Apelando aos governos para que "intensifiquem a sua luta contra o sexismo em todas as áreas", o Conselho da Europa ainda pede que personalidades públicas, políticos, líderes religiosos e outros adotem uma posição de condenação ao sexismo.

De acordo com o texto, a imprensa pode contribuir com um ambiente em que se tolera e se torna trivial o sexismo. Por isso, a recomendação é de que se combata o discurso que "consagrar a hegemonia do modelo masculino".

Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)