Investigação revela depósitos de subornos no acordo CBF-Nike
Caso envolvendo Ricardo Teixeira, que já era investigado nos EUA, ganha força com depósitos identificados por procuradores espanhóis que apuravam corrupção no futebol
GENEBRA – Uma rede de contas em paraísos fiscais poderia ser o indício que faltava para uma comprovação de que o acordo assinado entre a Nike e a CBF rendeu milhões de dólares em propinas ao ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira.
As informações fazem parte dos processos na Espanha contra os dirigentes do futebol e que revelam que o ex-presidente da CBF é alvo de investigações em Andorra, nos EUA, na Suíça e na própria Espanha.
Nesta segunda-feira, tem início o período final do julgamento de Sandro Rosell, ex-presidente do Barcelona e parceiro comercial de Ricardo Teixeira. Ele é suspeito de ter orquestrado um sistema para desviar milhões de euros da renda de amistosos da seleção brasileira.
Mas documentos do Ministério Público da Espanha revelam que, ainda que o processo tenha os jogos como ponto central, os investigadores descobriram que a amizade de Rosell com Teixeira ia muito além dos amistosos.
Ao fazer uma operação de buscas em maio de 2017 numa das casas de Rosell, em Girona, a polícia espanhola afirmou que descobriu um documento assinado entre a CBF, Nike e Ailanto, com data de 21 de novembro de 2011. Eram três páginas em que aparecem as assinaturas de Teixeira e Rosell.
Ailanto é uma empresa que o espanhol criou no Brasil, dias antes de uma partida que ele mesmo organizou entre Brasil x Portugal. O que os documentos revelam, porém, é que a participação da empresa com a CBF ia além daquela partida.
"Trata-se do término de um contrato de serviço de 6 de novembro de 2008 pelo qual a Ailanto, empresa brasileira de Rosell, atuava como intermediárias nas negociações entre a CBF e a empresa de roupas esportivas Nike, patrocinadora da seleção", explica o MP espanhol.
O contrato original previa que Rosell obtivesse US$ 26 milhões "por sua intervenção como suposta intermediária entre a CBF e a Nike". Em sua rescisão, estabelece-se que Rosell ficaria com US$ 12 milhões.
De acordo com os investigadores, porém, Teixeira depositou numa conta de uma empresa de fachada, a Regata, 5 milhões de euros em 2009. A Regata tinha como seu principal controlador o próprio Rosell.
Mas o que investigadores também concluíram é que o dinheiro acabou continuando sua rota e transitou por outras contas "sem relação comercial ou econômica que se justifique". Dessas novas contas, uma vez mais o dinheiro seguiria para outras contas.
Em 2011, por exemplo, 219 mil euros foram parar numa conta que, uma vez mais, era de Ricardo Teixeira. Em 2009, três depósitos ainda seriam feitos ao brasileiro, também sem justificativa.
Também consta que o ex-secretário-geral da Fifa, Jerome Valcke, recebeu dois depósitos da conta Regata. Em 18 de março de 2009, foram 227 mil euros. Em 22 de junho, mais 370 mil euros. Nenhuma justificativa foi apresentada. O francês foi quem, em plena preparação do Brasil para a Copa de 2014, sugeriu que o País recebesse um "chute no traseiro" pelos atrasos nas obras.
Em 2009, enquanto recebia dinheiro de contas relacionadas com os suspeitos, ele era também que conduzia as preparações da Fifa para o Mundial de 2014.
SUSPEITA – A suspeita dos investigadores é de que a rede de contas e os depósitos tenham servido para que Teixeira "ocultasse pelo menos uma parte da comissão ilícita que ele recebeu da Nike por formalizar seu contrato de patrocino com a CBF, fragmentando o valor e se distanciamento da origem criminosa".
De acordo com os espanhóis, esses dados constam das investigações que também ocorrem nos EUA "nas que resultam implicados Teixeira e Valcke".
Ao descrever Teixeira, o MP suíço aponta que Teixeira deveria ter como função "velar pelos interessas da entidade que representava". Mas aponta que o brasileiro "resolveu fazer suas parte das contra-prestações acertadas com as empresas que contratavam a entidade esportiva que ele representava".
Para os espanhóis, tal gesto deve ser considerado como "um claro abuso de sua posição e em prejuízo aos interesses" da CBF.
Ao longo dos anos, Teixeira sempre afirmou que nada que fez violava as regras e leis no Brasil.
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