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Jamil Chade

Sachs defende barreiras comerciais contra quem desmatar

Jamil Chade

08/10/2019 11h00

 (Divulgação/FAB)

 

GENEBRA – Países deveriam ser autorizados a impôr barreiras comerciais contra o Brasil ou outras economias caso esses exportadores não cumprem suas responsabilidades ambientais ou que tentem vender produtos de regiões que foram devastadas para que tais bens sejam cultivados.

Quem defende isso é Jeffrey Sachs, professor da Universidade Columbia e considerado pela revista Time Magazine uma das pessoas mais influentes do mundo. Num evento nesta terça-feira em Genebra na Organização Mundial do Comércio (OMC), o americano insistiu sobre a necessidade de que haja "coerência" entre tratados comerciais e ambientais.

"Não podemos importar (produtos) se eles vem de regiões que acabam de ser devastadas da floresta tropical", disse. "Pode colocar barreiras", afirmou. "Essa coerência vai ter de se construída. Vai ser difícil ela ser criada", admitiu o americano, chamando os governos que não cumprem suas obrigações de "estados párias".

Citando a ausência do Brasil nos debate sobre o clima em Nova Iorque, em setembro, Sachs insistiu que perguntas "fundamentais" precisam ser colocadas: "como vamos comercializar com o Brasil se não participa do esforço climático?". "São questões delicadas. Mas temos de lidar com tais temas se queremos ir adiante", defendeu o americano que foi conselheiro no FMI, no Banco Mundial, na OCDE, na Organização Mundial de Saúde e no Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas.

Sachs definiu a questão ambiental como "existencial" e classificou os incêndios na floresta como "uma dramática limpeza de terra".

As declarações do americano ocorrem um dia depois que, no Reino Unido, o Parlamento iniciou um exame de uma petição que solicitava que sanções fossem impostas contra o Brasil por conta dos incêndios na Amazônia.

Na UE, diferentes governos tem alertado sobre a vinculação da ratificação do tratado Mercosul-Europa com aspectos ambientais. O próprio acordo, assinado em julho, estabelece que os europeus terão o direito de adotar medidas se houver um desmatamento causado pelas exportações de bens para a UE. Mas, por enquanto, poucos sabem dizer como esse mecanismo funcionaria.

O americano também atacou de forma dura seu próprio governo, liderado por Donald Trump. Em sua avaliação, a Casa Branca está levando o cenário internacional à beira de um colapso do sistema multilateral.

Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)