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Jamil Chade

Na ONU, governo responde a Bachelet e cita soberania sobre Amazônia

Jamil Chade

10/09/2019 10h12

(Divulgação/FAB)

 

GENEBRA – O governo de Jair Bolsonaro respondeu à alta comissária da ONU para Direitos Humanos, Michelle Bachelet, que nesta semana voltou a criticar a gestão do presidente brasileiro e o desmatamento na Amazônia, a morte de indígenas e ambientalistas.

"O Brasil reafirma sua soberania para agir para proteger, preservar e desenvolver de forma sustentável a Amazônia", disse nesta terça-feira a delegação brasileira na ONU, diante do Conselho de Direitos Humanos. O Itamaraty, porém, não mencionou nem as ameaças aos indígenas e nem a situação de defensores de direitos humanos.

Na segunda-feira, diante do Conselho de Direitos Humanos da ONU, a chilena alertou para o impacto dos incêndios na Amazônia, a situação de indígenas e as ameaças contra defensores de direitos humanos, além de pressionar governos da região para que implementem políticas sustentáveis e cooperem com a comunidade internacional.

Os comentários ocorreram apenas cinco dias depois que ela, ao responder a uma pergunta do UOL, criticou a violência policial no Brasil e alertou para a redução do espaço democrático no País, além de denunciar a situação da Amazônia. Como resposta, o presidente Jair Bolsonaro fez uma apologia ao regime de Augusto Pinochet e citou o pai de Bachelet, morto pela ditadura chilena. A própria Bachelet foi presa e obrigada a deixar o país por anos.

Agora, coube ao Itamaraty responder uma vez mais. A embaixadora diante da ONU, Maria Nazareth Farani Azevedo, declarou que o governo continua envolvidos em todos os tratados internacionais relacionados ao meio ambiente e que tem atingido 58% de redução de emissões, em comparação às projeções de 2020.

O governo também destacou que, entre os grandes países emergentes, o Brasil é o único que tem adotado uma meta de redução das emissões para sua economia.

Segundo a embaixadora, o Brasil está "plenamente engajado" no esforço de lidar com os incêndios na Amazônia. Mas ela insistiu que as queimadas são sazonais e que ocorrem na época de secas na região.

A diplomata ainda citou como as taxas estariam em linha com a média histórica dos últimos 20 anos. Se comparado à média dos últimos 15 anos, a taxa de 2019 seria menor. Os anos de 2002, 2006, 2007 e 2010 também teriam taxas mais elevadas.

"O governo brasileiro reafirma seu compromisso em combater o desmatamento ilegal", disse. Segundo ela, a convocação das Forças Armadas é um sinal desse compromisso. A embaixadora ainda garantiu à ONU que já foram registradas "quedas significativas" de incêndios e destaca como 43 mil soldados estão mobilizados para trabalhar na Amazonia, caso necessário.

Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)