“O silêncio do estado é uma violência”, diz viúva de Marielle
500 dias depois da execução da vereadora Marielle Franco, sua viúva Mônica Benício revela que ministro da Justiça, Sérgio Moro, nunca atendeu a seu pedido por audiência. Neste sábado, Marielle completaria 40 anos de idade.
GENEBRA – A ativista Mônica Benício, viúva de Marielle Franco, denuncia o silêncio do estado brasileiro diante da morte da vereadora, que neste sábado completa 500 dias sem uma resposta sobre os mandantes da execução. Marielle, neste 27 de julho, também completaria 40 anos de idade.
Em entrevista ao blog, Mônica defendeu que o assassinato cometido em 14 de março de 2018 seja tratado como um crime político.
"Sabemos que esse silêncio nos diz muito", disse. "O que temos certeza é a ausência de uma resposta concreta do Estado brasileiro sobre quem mandou matar Marielle", afirmou.
"Eu vivo esse silêncio, que é uma violência para mim e toda sociedade, por meio de uma contagem pública que faço de todos esses dias. Mais um dia e mais uma noite na data de aniversário da Marielle se completam exatos 500 dias sem a minha mulher. 500 dias sem uma resposta do Estado Brasileiro", atacou.
Mônica deixa claro que esse silêncio não é apenas relativo às investigações, que levaram à prisão de dois suspeitos e que, desde então, não teria avançado na busca dos mandantes.
"Até agora o presidente da República não se manifestou sobre o crime e seu ministro da Justiça ignorou meus pedidos de audiência. Por qual motivo será que isso ocorre?", questionou.
"A seletividade da da Justiça hoje no Brasil mais do que descarada é evidente", disse. "Um caso tão importante e emblemático quanto esse se arrasta por mais de um ano enquanto outros são resolvidos em tempo recorde. A minha dor pela perda de minha companheira hoje é proporcional a minha vergonha da Justiça brasileira", afirmou. "Acredite, é enorme", insistiu.
Questionada se acreditava no envolvimento de pessoas do alto escalão do poder no crime ou pelo menos na tentativa de abafa-lo, a ativista diz que essa é sua percepção.
"Eu vivo num país que não precisa ter provas, basta ter convicção", disse. "Minha convicção é de que obviamente existe alguém poderoso politicamente responsável por tudo isso", afirmou.
Mas ela alerta que não vai desistir. "Eu não me importo, eu não vou medir esforços nem descansar um dia se quer para que o responsável por isso, independente de quem seja, responda na Justiça pelo que fez. A democracia do Brasil precisa disso", defendeu.
"Não é responsável levantar acusações, mas entendo que trata-se de um crime político. Uma vereadora brasileira foi executada e para além de respondem quem matou Marielle, precisamos responder o motivo", disse.
"O Brasil é um dos países mais inseguros para defensores de direitos humanos e essas respostas precisam ser dadas para que esse contexto de violência seja superado", completou.
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