Autor de Gomorra qualifica Bolsonaro de "medíocre"

O autor Roberto Saviano. Foto: EFE
Escritor italiano ameaçado de morte pelo crime organizado critica presidente brasileiro e sugere desmontar o fascínio pelas armas entre os jovens.
GENEBRA – Os jovens brasileiros precisam saber das "mentiras" e "crimes" cometidos por Jair Bolsonaro. Quem faz a recomendação é Roberto Saviano, o autor do bestseller Gomorra (2006) e que, nos últimos meses, tem denunciado o governo de extrema-direita da Itália e se transformou em uma das principais vozes críticas ao populismo na Europa.
Neste fim de semana, ele participou de um debate durante o Festival de Cinema de Direitos Humanos, em Genebra, e foi questionado sobre o presidente brasileiro e o fascínio de parte da juventude pelas armas.
O escritor coleciona prêmios internacionais pela qualidade de sua obra e por revelar os bastidores do crime organizado. Mas, desde a publicação de seu livro, há mais de dez anos, o napolitano vive sob proteção de uma escolta policial permanente. Ao longo dos anos, ele tem sido ameaçado de forma recorrente.
Durante o debate neste fim de semana, uma pessoa na plateia solicitou a palavra e se apresentou como "ítalo-brasileira". Dizendo ter um filho de 17 anos, ela afirmou estar preocupada com o fascínio dos jovens brasileiros pelas armas e citou Bolsonaro.
"Sabe, entendo a sua preocupação", respondeu Saviano. "As armas são fascinantes, porque tudo aquilo relacionado à vida e à morte, relacionando ao poder, provoca fascínio", apontou. "Por fascínio se entende como aspecto irracional de atração. Disparar (uma arma) significa poder tirar a vida de uma pessoa. Não disparar significa que você está concedendo vida a uma pessoa. Isso tudo é fascinante", analisou o italiano. "Mas a única via que temos é desmontar esse fascínio. Não negá-lo", recomendou.
"Bolsonaro é um administrador local medíocre e aproveitou um momento dramático do Brasil. Nós não podemos usar outro instrumento a não ser contar aos jovens brasileiros pedaço por pedaço das suas mentiras. Os crimes que cometeu", sugeriu. "A difusão de grupos paramilitares que está construindo", insistiu.
Saviano insiste que é necessário mostrar aos jovens que "atrás dessas armas não tem nenhuma perspectiva heroica". "Atrás dessas armas, tem a barbárie, frequentemente, tem corrupção, não há capacidade "organizativa" nem "resolutiva", que é o que mais gostam nas armas, sua capacidade de resolver tudo", avaliou.
Palavras – Saviano reivindica ainda a recuperação da "palavra". "O que acontece nesse momento é que há muito cansaço das palavras. E o que se deseja nesse momento é uma ação imediata, repentina", disse. "Prefere-se um político, mesmo medíocre, que prometa uma ação efetiva, a um talvez até competente, que, por sua vez, se apega aos prazos da democracia", disse.
"Devemos voltar a ter confiança na palavra, mas numa palavra que seja capaz de confrontar, que fundou a nossa democracia na Europa", sugere. "Esse é o caminho", disse. "Devemos, absolutamente, pegar novamente esse caminho, sabendo que é um caminho cheio de contradições, cheio de erros, mas que é, sem dúvida, melhor que o caminho da autoridade, do autoritarismo militar", completou.
Máfia – Na Itália, Saviano tem sido alvo de uma dura campanha por parte dos aliados do ministro do Interior, Matteo Salvini, chefe do partido de extrema-direita. O político anunciou em 2018 que iria abrir um processo por difamação contra o escritor. A crise começou quando o gabinete de Salvini ameaçou retirar a proteção policial com a qual o escritor conta desde 2006. Naquele ano, a Camorra o ameaçou de morte.
Em resposta, Saviano sugeriu que o político teria ligações com a membros da Máfia. "Aceito todas as críticas. Mas não permito que ninguém diga que eu ajudei a máfia", disse o ministro. Saviano respondeu que não iria deixar de fazer oposição.
(Colaborou: Beatriz Farrugia)
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