Topo

Jamil Chade

Na ONU, ativistas internacionais e brasileiros cobram governo por Marielle

Jamil Chade

13/03/2019 08h00

GENEBRA – Ativistas, defensores de direitos humanos, líderes indígenas e entidades internacionais se uniram nesta quarta-feira para cobrar, na ONU, uma resposta do governo diante do assassinato de Marielle Franco, que completa nesta quinta-feira seu primeiro aniversário.

Num discurso nesta manhã diante do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, a representante da entidade Conectas, Camila Asano, alertou que o momento chegou para que o governo de Jair Bolsonaro faça uma demonstração internacional de que está comprometido em proteger ativistas.

Ela falava em nome de quase 20 ongs, entre elas o Movimento Internacional contra Toda Forma de Discriminação e Racismo, Franciscans International, a Organização Mundial contra a Tortura, Artigo 19 e o Conselho Indigenista Missionário.

"Muitos que confrontam o poder com a verdade no Brasil, como Marielle Franco, pagam com suas vidas por proteger os direitos humanos", disse. Segundo ela, as autoridades brasileiras tomaram "poucos passos" para fazer justiça.

"Apenas ontem (terça-feira), dois suspeitos foram detidos preventivamente", disse, numa referência à operação no Rio de Janeiro que prendeu suspeitos e encontrou um verdadeiro arsenal de armas. "Ainda existe um estrondoso silêncio sobre quem ordenou o crime", alertou Camila Asano.

Ao descrever a atuação de Marielle, as ongs lembraram como ela defendia todas as vítimas de abusos, inclusive os familiares de policiais mortos em serviço. "Seu assassinato representa uma ameaça a todos os defensores de direitos humanos no Brasil", declarou.

"Chegou a hora de o Brasil mostrar à comunidade internacional que está verdadeiramente engajado na proteção de todos os defensores de direitos humanos", disse. "Chegou a hora de o governo brasileiro mostrar que tais ataques não serão tolerados", completou.

O governo brasileiro, ao responder aos ataques, afirmou na reunião da ONU que "reconhece o papel importante da vereadora Marielle Franco na promoção e proteção de direitos humanos e lamenta profundamente seu assassinato".

"Dois suspeitos foram presos ontem e o Brasil está comprometido em investigar plenamente o caso e garantir Justiça para as vítimas", declarou a delegação do governo.

A ministra de Direitos Humanos, Damares Alves, optou por não citar o caso de Marielle ao discursar nas Nações Unidas, há duas semanas.

Mas a pressão vai continuar. Na quinta-feira, entidades internacionais organizam um ato de protesto diante da sede da ONU, também para marcar o dia do assassinato da ex-vereadora.

Na sexta-feira, será a vez do ex-deputado Jean Wyllys falar diante da ONU sobre as ameaças aos direitos humanos no Brasil.

Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)