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Jamil Chade

Brasil perde até para sauditas em participação feminina no Congresso

Jamil Chade

05/03/2019 12h47

Novo ranking da União Inter-Parlamentar traz o País na 133a posição no que se refere à participação feminina no Legislativo. Hoje, a taxa de mulheres brasileiras no Congresso é ainda inferior à média mundial e superada por diversos países com uma população predominantemente muçulmana. 

 

GENEBRA – Subiu a participação de mulheres no Poder Legislativo no Brasil como resultado das eleições em 2018. Mas a alta ainda não tirou o País de uma posição pouco confortável no novo ranking publicado nesta terça-feira pela União Inter-Parlamentar (UIP).

De acordo com a entidade que reúne os Parlamentos de todo o mundo, o Brasil ocupa apenas a 133 posição entre 191 países avaliados. Antes das eleições do ano passado, o Brasil aparecia na posição de número 156. Naquele momento, apenas 10,7% do Congresso era composto por mulheres. Hoje, essa taxa chegou a 15%. São 77 mulheres entre 513 lugares na Câmara dos Deputados.

Mesmo com o aumento, a taxa no País está bem abaixo da média mundial. Segundo a UIP, o ano de 2018 terminou com uma participação de 24,3% de mulheres nos diferentes poderes legislativos. Em 2017, a taxa era de 23,4%.

Os dados também mostram que o Brasil acumula um atraso de pelo menos uma década em relação à média mundial. Em 2008, a taxa feminina em Parlamentos no mundo era de cerca de 18%.

Hoje, a liderança é de Ruanda, com 61% de seu Parlamento composto por mulheres. Três países da América Latina aparecem entre os líderes: Cuba (53%), Bolívia (53%) e México (48%). De fato, a UIP estima que a região das Américas é a primeira a ver uma taxa total acima de 30% na participação de mulheres no Legislativo.

Diversos países com uma população predominantemente muçulmana registram ainda uma situação mais equilibrada entre mulheres e homens que a realidade do Brasil. Na Turquia, a participação feminina é de 17%, contra 19% na Arábia Saudita, 20% no Paquistão e Marrocos, 25% no Iraque, 27% no Afeganistão e 35% na Tunísia.

Para a UIP, os dados mundiais revelam que as cotas funcionam e mais de 130 países hoje contam com regras neste sentido. Mas, por si só, elas não vão resolver a disparidade de representação. A avaliação é de que tais cotas precisam ser acompanhadas por sanções contra partidos que as desrespeitarem, assim como medidas e mecanismos para garantir a participação mais equilibrada da sociedade na política.

Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)