Em derrota, Brasil não evita aprovação de resolução "pró-Venezuela" na ONU
GENEBRA – O Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas aprovou uma resolução proposta pelo Irã e apoiada por Nicolas Maduro, estabelecendo que Caracas coopere com a ONU. O Brasil fazia campanha contra o texto e pediu, em público, que os membros da entidade internacional votassem contra a resolução. O Itamaraty considera que apenas uma investigação internacional pode pressionar o governo bolivariano a assumir suas responsabilidades diante dos crimes já descritos pelos informes da ONU.
A resolução foi aprovada por 18 votos a favor, 23 abstenções e apenas seis contra. Além do Brasil, só rejeitaram a proposta governos como o da Ucrânia, Austrália, Peru, Argentina e Chile, todos aliados de Washington.
O documento apenas pede que se estabeleça uma cooperação entre a alta comissária de Direitos Humanos, Michelle Bachelet, e Caracas nos próximos 30 dias. Mas não há qualquer estabelecimento de investigações para levar os responsáveis pelos crimes à Justiça.
Uma segunda resolução, liderada pelo Brasil, será submetida ao voto na ONU nesta sexta-feira. Nesse caso, a criação de uma investigação internacional será proposta e tem chances de ser aprovada. Mas a esperança do Grupo de Lima era de que o texto desta quinta-feira fosse derrubado.
Ao pedir a palavra, na ONU, a embaixadora do Brasil, Maria Nazareth Farani Azevedo, deixou claro nesta quinta-feira que era contra a proposta apresentada por Teerã.
"A cooperação é fundamental e prioridade para o Brasil. Oferecemos muitas vezes antes de trazer o tema para este órgão", disse, lembrando que hoje o País oferece alimentos, remédios e moradia aos venezuelanos que escapam da crise.
Para a diplomata brasileira, a resolução aprovada estava sendo apoiada pelos responsáveis por violações, que se negam a reconhecer situação de crise e nem assumem a responsabilidade por crimes.
A embaixadora qualificou o gesto de Caracas de cooperar com a ONU como sendo um de "promessas vazias para desviar a atenção". "É muito pouco, muito tarde", disse a diplomata, sobre o que propunha o texto. Para a diplomata, o projeto era "um escárnio" e uma "ofensa".
Mas os governos da China, México, Uruguai, Tunísia, Catar, Angola e África do Sul votaram a favor. Pesou ainda o fato de a UE ter optado por se abster.
"Não é apontando para um país com o dedo que vamos proteger as vítimas", disse a delegação do Uruguai. Montevidéu pediu "diálogo" para que um acordo político possa ser obtido.
Os sul-africanos também insistiram que a resolução permite espaço para que a mediação proposta pelos noruegueses possa avançar.
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