Agricultores e ambientalistas se unem contra novo acordo com Mercosul
A partir desta segunda-feira (19 de agosto), Itamaraty tenta fechar tratado com Noruega, Suíça e Islândia, o o que seria o segundo acordo comercial em 2019.
GENEBRA – Começa nesta segunda-feira o que pode ser a reta final das negociações entre o Mercosul e o bloco comercial formado Noruega, Suíça, Islândia e Liechtenstein, conhecido como EFTA (Acordo de Livre Comércio da Europa).
Diplomatas já estão em Buenos Aires e, entre os suíços, a expectativa é de que um acordo possa ser fechado "no futuro próximo". Entre diplomatas brasileiros, a esperança é de que o encontro estabeleça as bases de um tratado. Fontes do Itamaraty confirmam que a meta é de que essa seja a última rodada de negociações, ainda que não se exclua a possibilidade de um novo encontro em setembro.
Se houver um acordo, esse seria o segundo tratado a ser anunciado pelo Mercosul em 2019. Há poucos meses, o bloco fechou o processo negociador com a UE, depois de 20 anos de conversas. Mas produtores agrícolas da Noruega e ambientalistas se mobilizam contra o acordo, ampliando as polêmicas envolvendo o Fundo Amazônia entre Brasília e Oslo.
No setor industrial, a pressa por um segundo acordo comercial no espaço de poucos meses não ocorre por acaso. Os europeus temem que uma eventual derrota do presidente da Argentina, Maurício Macri, nas eleições marcadas para outubro acabem congelando todo o processo negociador.
De acordo com Berna, o risco é de que, sem um acordo, os bens exportadores pelos suíços e noruegueses acabem sendo prejudicados. Hoje, esses governos não fazem parte da UE e, portanto, não seriam beneficiados pelo acordo fechado entre Mercosul e UE.
Para os exportadores suíços, por exemplo, essa ausência de um acordo poderia significar o fechamento de certos mercados.
Atualmente, uma empresa alemã de máquinas exporta ao Brasil e é obrigada a pagar as mesmas tarifas que uma exportadora suíça ou norueguesa fazem. Mas, com o acordo entre Mercosul-UE, essas vendas alemãs ocorrerão isentas de tarifas, o que significa que terão vantagens comerciais.
Os suíços querem evitar esse desequilíbrio e, portanto, se apressam a garantir as mesmas condições de acesso ao mercado das economias sul-americanas. Hoje, o comércio bilateral chega a US$ 8 bilhões, um número considerado como expressivo.
Meio Ambiente
Mas a rodada de negociações pode acabar sendo alvo de polêmicas. Ela ocorre dias depois da crise instaurada entre as diplomacias de Brasil e Noruega, por conta do Fundo Amazônia. Na semana passada, Oslo suspendeu o repasse ao fundo, culpando as modificações realizadas pelo Brasil como motivo. Em resposta, o presidente Jair Bolsonaro ironizou a decisão dos noruegueses.
O UOL revelou na sexta-feira que tanto os noruegueses como os suíços vão cobrar do Brasil que assuntos relacionados à gestão de florestas esteja no tratado.
No fim de semana, porém, cresceu a pressão em Oslo sobre o impacto do acordo. Para a rede NRK, o secretário-geral da entidade WWF, Bård Vegar Solhjell, insistiu que a Noruega deve usar o acordo com o Mercosul para pressionar o Brasil sobre a Amazônia e frear o desmatamento.
"Um acordo comercial deve se referir explicitamente a isso", defendeu. Segundo ele, a meta é de que existam aspectos claros que obriguem países a se comprometer com o uso sustentável da floresta.
Quem também faz pressão é a entidade Future in Our Hands, citando os recentes estudos do IPCC que apontam para a necessidade de a sociedade reduzir o consumo de carne para garantir a sustentabilidade do planeta. Segundo a representante do entidade, Anja Rjise, o consumo de carne na Noruega deve ser cotado pela metade.
"A carne que comemos deve ser produzida da forma mais sustentável possível. Uma importação maior da América do Sul apenas vai contribuir para o contrário", disse, Anja Bakken Riise, em entrevista ao jornal Dagbladet. Ela relaciona a exportação competitiva da carne do Mercosul a uma "produção problemática de soja".
A associação de agricultores da Noruega, a Bondelag, também alerta para os riscos de um acordo com o Mercosul. Com 63 mil membros, ela alerta que não faz sentido importar carnes do Mercosul, uma vez que a produção local gera menos C02 que a produção sul-americana.
Sigrid Hjørnegård, secretária-geral da entidade, não esconde que teme que a concorrência sul-americana no setor agrícola possa afetar os produtores nacionais.
Mas, ao jornal de Oslo, também recorre a argumentos ambientais para justificar sua oposição. "Os consumidores noruegueses devem ser capazes de comer carne com consciência tranquila", disse.
Segundo ela, o setor agrícola do país investiu nos últimos anos para garantir uma produção sustentável. Agora, não faria sentido conviver com a concorrência de produtos sul-americanos e alerta que essa importação "dobraria a pressão sobre os recursos naturais do Mercosul". Hjørnegård garante que o governo sabe dos problemas, principalmente no setor de carnes.
Røe Isaksen, o ministro norueguês responsável pela pasta comercial, adotou um tom mais diplomático. "Um acordo comercial não é o lugar para criar mecanismos criminais contra o Brasil ou outros parceiros", disse. "Tal acordo é apenas um dos vários instrumentos que podemos usar para proteger o meio ambiente no Brasil", disse.
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