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Jamil Chade

Brasil é país do G-20 que mais adota medidas de abertura comercial

Jamil Chade

24/06/2019 10h59

Roberto Azevedo, diretor-geral da OMC, fará alerta ao G-20 diante da proliferação de medidas protecionistas. Foto: Jamil Chade

No mundo, porém, novas barreiras comerciais atingiram US$ 335 bilhões e preocupam OMC

 

GENEBRA – Entre o final de 2018 e os cinco primeiros meses de 2019, o Brasil foi o país do G-20 que mais adotou medidas de abertura comercial. Os dados fazem parte de um relatório publicado nesta segunda-feira pela Organização Mundial do Comércio (OMC), às vésperas da cúpula do G-20 no Japão.

No total, o Brasil aplicou nove medidas de facilitação do comércio entre outubro de 2018 e maio de 2019. Neste periodo, o governo americano não adotou nenhuma medida neste sentido, o mesmo se repetindo na UE.

O Brasil também reduziu de forma dramática a imposição de taxas antidumping. Em 2017, foram 14 medidas, conta apenas cinco em 2018. Nesse caso, os dados não refletem ainda 2019.

O levantamento reflete uma guinada radical da posição comercial do Brasil. Por anos, o País foi o líder entre as economias que mais adotavam medidas de restrição comercial.

Agora, o Brasil foi responsável por nove das 29 medidas de abertura comercial adotadas pelos países do G-20.

Se o governo brasileiro segue numa linha de abertura, o mesmo não se pode falar das grandes economias mundiais. O levantamento publicado revela que um total de US$ 335 bilhões em fluxos comerciais foram afetados por barreiras entre outubro de 2018 e maio deste ano.

O volume apenas é superado pelos seis meses anteriores, quando US$ 480 bilhões foram alvos de tarifas. Os dados serão levados agora ao G-20, que se reune em Osaka, e o diretor-geral da OMC, Roberto Azevêdo, aproveitará o encontro para pedir uma trégua na guerra comercial.

"Esse informe traz novas evidências que a turbulência gerada pelo atual tensão comercial continua, com os fluxos de comércio atingidos por novas restrições em um nível historicamente elevado", disse o brasileiro.

Segundo ele, a tendência estável que se observou por quase uma década desde a crise financeira foi substituída por um aumento de barreira nos últimos doze meses. Para ele, isso terá impacto para o comércio e para o crescimento da economia mundial.

"Precisamos ver a liderança do G-20 para lidar com a tensão comercial e cumprir seu compromisso ao comércio e às regras", disse.

Entre maio e outubro de 2018, um número inédito de barreiras tinham sido adotadas. Mas elas não foram retiradas e, agora, somam às novas. No total, em apenas seis meses, foram 20 novas barreiras criadas.

No mesmo período, medidas para facilitar o comércio atingiam US$ 397 bilhões. Mas com apenas quatro meses adotadas por mês, essa foi a taxa mais baixa desde 2012.

Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)