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Jamil Chade

Com caso de sarampo em São Paulo, governo fará nova campanha de vacinação

Jamil Chade

20/05/2019 04h00

Em Genebra, ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, participa de reuniões na OMS. Maio 2019/ Jamil Chade

GENEBRA – O governo brasileiro irá promover uma campanha extra de vacinação contra o sarampo, a partir de 10 de junho, em São Paulo. A informação é do Ministério da Saúde, que, nesta semana, está liderando na Suíça uma frente pela vacinação nas reuniões da Assembleia Mundial da Saúde.

Com caso autóctone de sarampo registrado em São Paulo na semana passada, a situação passou a ser considerada como preocupante por parte das autoridades. A avaliação é que 30% da população da região não está imunizada e uma eventual proliferação da doença poderia ter um importante impacto.

No total, 3,2 milhões de doses de vacinas foram disponibilizadas. Um milhão delas já está em armazéns.

Essa é a primeira vez desde 2015 que o município registrou a circulação do vírus internamente. Até a semana passada, ainda existiam outros quatro casos importados da doença. No total, outras 92 ocorrências suspeitas estão em investigação.

O temor, porém, é com as temperaturas mais frias a serem registradas a partir de junho e por parte importante da população não estar protegida.

Ao blog, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, indicou que a vacinação é uma de suas prioridades. "Vamos colocar na agenda e provocar o Poder Legislativo para que aumente a valência do documento de vacina, como um documento obrigatório para crianças em creche, para matrícula escolar", explicou.

Com as Forças Armadas, a ideia dele é que se vacine todos os homens de 18 anos que se apresentem para o serviço militar, mesmo que sejam liberados. "Queremos aproveitar, já que passam por lá", disse. Mandetta quer ainda que a carteira de vacinação se transforme em um documento de saúde do trabalhador.

Além do caso de São Paulo, o ministro não esconde sua "enorme preocupação" com a situação da Venezuela e o fluxo de refugiados e migrantes. "Foi por lá que entrou o sarampo no Brasil", disse. De acordo com Mandetta, Caracas perdeu a credibilidade na notificação de doenças infecciosas. "Então, estamos tendo notificações oficiosas e uma delas é de difteria, o que é algo muito sério. Vamos para outro patamar", disse.

Segundo ele, o Ministério da Saúde reforçou os estoques de soro e de vacinação na região de fronteira com a Venezuela.

De acordo com o ministro, sua pasta não sofreu cortes ainda em 2019. "Estamos trabalhando bem", disse. "Acabei de aumentar o repasse para a atenção primária", disse, citando um impacto de R$ 1 bilhão nesse setor.

Campanha

Nesta semana, nas reuniões anuais da OMS (Organização Mundial da Saúde), o ministro vai ser um dos líderes dos esforços para convencer a comunidade internacional a se comprometer a voltar a dar a atenção à vacina.

"O que estamos vendo é a queda da vacinação em todo o mundo", disse. "Não é um fenômeno localizado em um país. Nova York, de forma impensável, decretou uma emergência sanitária. França e Japão também têm dificuldades grandes", disse.

"Nós estamos fazendo um esforço pró-vacina muito forte no Brasil. Mas não adianta ser um esforço apenas brasileiro e não ser um esforço internacional", alertou. "Só no Carnaval, paramos oito navios para vacinar, antes que desembarcassem. Tinham casos de sarampo da França, da Europa e dos EUA. Ou é um esforço global de algo que todos devem se apropriar, ou vamos ver o ressurgimento de várias doenças", completou.

Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)