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Jamil Chade

Banco dos Brics destina apenas 8% de seu financiamento ao Brasil

Jamil Chade

20/05/2019 12h00

Governo já destinou US$ 1 bilhão à nova instituição financeira e, até 2021, o valor do aporte chegará a US$ 2 bilhões. Mas, até hoje, Brasil foi beneficiado por apenas US$ 621 milhões em linhas de financiamento por parte do banco

 

(GETTY IMAGES)

 

GENEBRA – De cada cem dólares distribuídos pelo banco dos Brics para o financiamento de projetos em países emergentes, apenas oito foram ao Brasil. Isso é o que revelam dados colhidos pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) ao fazer um levantamento dos projetos bancados pela nova instituição e que tem o Brasil justamente como um de seus financiadores.

O New Development Bank (NDB) foi criado em 2014 como forma de financiar projetos nos cinco países que formam parte do bloco: China, Índia, Rússia, Brasil e África do Sul. A iniciativa também faz parte de um movimento dos emergentes para estabelecer um alternativa ao Banco Mundial e ao FMI, instituições consideradas como plataformas dos interesses dos países ricos.

Nesta semana, o vice-presidente, Hamilton Mourão, inicia uma viagem pela China e um dos temas é justamente a relação bilateral e o financiamento de projetos. Nesta segunda-feira, sua agenda previa uma visita à sede do banco, em Xangai.

Pelo acordo inicial de 2014, cada um dos países colocaria um total de US$ 2 bilhões no banco, levando o capital da instituição chegar a US$ 10 bilhões num período de sete anos. Até agora, segundo a CNI, o Brasil já destinou US$ 1 bilhão ao banco. Nos próximos cinco anos, o compromisso é de que outro valor equivalente seja destinado para a instituição.

Mas se a contribuição é igualitária entre os países, os números revelam que o Brasil pouco tem usado o financiamento do banco. Entre 2016 e 2018, a nova instituição financeira dos emergentes liberou US$ 621 milhões ao Brasil. Apenas 8% de todo o valor distribuído pelo banco.

Foram quatro projetos financiados, três deles em 2018. Mas os valores estão muito abaixo dos demais países.

Em 2017, o BNDES pegou uma linha de empréstimo de US$ 300 milhões para financiar, no Brasil, projetos relacionados com energias renováveis. Em 2018, US$ 50 milhões foram para o governo do Pará para projetos de infra-estrutura urbana. O governo do Maranhão também teve acesso a mais US$ 70 milhões. Mas o maior financiamento foi para a Petrobras, com US$ 200 milhões para bancar obras de infra-estrutura sustentável.

Já a Índia recebeu US$ 2,55 bilhões do banco, 34% de todo o financiamento. Em segundo lugar vem a China, com 33% e US$ 2,5 bilhões. Os russos representam 20% do financiamento, US$ 1,4 bilhão.

Apenas a África do Sul se beneficiou menos que o Brasil. Em dois anos, o país foi financiado em US$ 380 milhões, 5% da liberação de recursos do banco.

Fernanda Maciel, secretária-executiva do Conselho Empresarial dos Brics, acredita que um dos obstáculos é o pouco conhecido no setor privado das possibilidades de linha de crédito. Ela, porém, pede que o governo brasileiro amplie a visibilidade e atuação no banco.

"A CNI está fazendo um trabalho para sensibilizar o setor privado. Mas o governo precisa fazer sua parte", disse.

 

Escritório

A esperança da CNI é de que essa realidade comece a mudar com a abertura de um escritório do banco no Brasil. A sede da instituição fica em Xangai. Mas com a presidência dos Brics indo ao Brasil de forma temporária, a expectativa é de que o anúncio seja concretizado no final do ano, durante a cúpula do bloco em Brasília.

A entidade também defende que o Brasil passe a fazer parte de um fundo de preparação de projetos que, justamente, auxilia governos e o setor privado que queira ter acesso ao financiamento do banco. Hoje, o Brasil é o único país do Brics fora dessa iniciativa.

Outro dado que chama a atenção: todos os projetos apresentados até hoje pelo Brasil foram aprovados pelo banco. A percepção, portanto, é de que o número de iniciativas precisa crescer.

Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)