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Jamil Chade

OCDE admite erro na publicação de dados sobre educação no Brasil

Jamil Chade

04/05/2019 04h00

GENEBRA – A OCDE declarou neste domingo que cometeu um erro com os números que ela mesmo mantém em seu site sobre a educação no Brasil e pede "desculpas".

Neste sábado, este blog publicou dados que estavam no site da OCDE sobre os gastos com a educação no Brasil. Os dados disponíveis no site, porém, estavam "incorretos", de acordo com uma declaração oficial por parte da entidade.

A matéria indicava que o Brasil tinha o pior gasto universitário. Os dados corretos, porém, não indicam tal posição.

Desde o início do debate sobre o papel das universidades no Brasil, passei a buscar dados para poder contribuir para o debate, principalmente por parte de entidades internacionais. Busquei em locais como a ONU, Unesco e OCDE. Em Paris, fui informado que todos os dados que poderiam ser comparados estavam em indicadores no site da entidade, que seriam justamente os mais atuais.

Ali, ainda na quinta-feira, os "indicadores em gastos com educação" mostravam claramente o Brasil na última posição no que se refere ao nível universitário.

Para me certificar, fiz prints das tabelas e elas estão abaixo. Nos dois dias seguintes, por motivos diferentes, voltei a consultar a tabela, sempre com os mesmos dados.

Também para me certificar que ela estava correta, usei todos os instrumentos que a OCDE oferece em seus indicadores – tabelas, dados e mapas. Em todos eles, o resultado era idêntico: Brasil em último lugar.

Essas eram as informações disponíveis oficialmente no site e que, no domingo pela manhã, continuavam válidas:

 

 

 

Erro

Desde a publicação da matéria, porém, uma série de questionamentos tem sido feitos e muitos deles com propriedade e seriedade.

O que foi demonstrado era que, em um informe publicado há nove meses, os valores referentes ao Brasil eram de US$ 14,2 mil para o ano de 2015, e não US$ 3,7 mil por estudante universitário, como estava no material da própria OCDE em seu site.

Ao serem informados por este blog sobre a existência dessa discrepância neste fim de semana, os responsáveis da OCDE admitiram que a desconheciam. Neste domingo, o site continuava com os dados usados na matéria do UOL.

No começo desta tarde (horário europeu) de domingo, por email e depois de fazer uma análise interna, a instituição reconheceu que existiu um erro de parte deles.

"Podemos confirmar que o dado de gastos do Brasil em educação superior em dólares americanos tomado da webpage da OCDE https://data.oecd.org/eduresource/education-spending.htm#indicator-chart está incorreto", escreveu Spencer Wilson, chefe de relações com a imprensa da instituição.

A entidade ainda se desculpou pelo erro publicado. "Por favor, aceite minhas desculpas por esse erro", escreveu Wilson. "Já alertei aos colegas e vamos corrigir esses dados. Mas dado que é um domingo, isso provavelmente apenas ocorrerá na segunda-feira", completou.

O dado correto, segundo ele, é de US$ 14,2 mil, o que certamente retira o Brasil da lanterna da classificação.

"O dado correto para o Brasil é de US$ 14,2 mil, como no arquivo em anexo, não US$ 3,7 mil como na página (da OCDE)", indicou.

Nos emails enviados ao UOL por parte da OCDE, eis os dados corretos, com base em informações de 13 de março de 2019:

(em mil dólares por universitário, por ano. A lista dos países respeita a ordem alfabética, em inglês)

 

Austrália                           20,3
Austria                             17,5
Bélgica:                            17,3
Chile                               8,4
República Tcheca             10,8
Estonia                             12,8
Finlândia                           17,5
França                              16,1
Alemanha                            17
Grécia                              4
Hungria                             8,7
Islândia                            12,6
Irlanda                             13,2
Israel                              11
Italia                                         11,2
Japão                                        19,2
Coreia                                       10,1
Letonia                                     10,1
Luxemburgo                            48,9
México                                      8,1
Holanda                                 19,2
Nova Zelândia                       15,1
Noruega                                  20,9
Polônia                                    9,6
Portugal                                  11,7
Eslováquia                             15,8
Eslovênia                               10,8
Espanha                                 12,6
Suécia                                     24,4
Turquia                                    8,9
Reino Unido                          26,3
EUA                                         30,3

Brasil                                       14,2

Colômbia                                  6,3
Lituânia                                    9,6
Rússia                                       8,3

 

Por esses dados, o Brasil estaria na 16a posição entre 36 países. Os gastos continuam abaixo da média dos países da OCDE, de US$ 15,6 mil por estudante universitário. Mas longe da posição de lanterna, como os dados no site estavam divulgando.

Não estavam disponíveis, em março de 2019, os dados de Canadá, Dinamarca, Suíça, China, Argentina, Costa Rica, India, Indonésia, Arábia Saudita e África do Sul.

Com base em publicação de setembro de 2018, a OCDE ainda oferece informações sobre o Brasil, que diferem dos dados que mantinha em seu site.

Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)