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Jamil Chade

Opositor diz que vias pacíficas estão "esgotadas" na Venezuela

Jamil Chade

02/05/2019 14h34

Antonio Ledezma recebeu, em 2018, condecoração do governo de Michel Temer.

 

Para o ex-prefeito de Caracas, o Brasil precisa assumir "responsabilidades" e defende uma "intervenção humanitária"

GENEBRA – Antonio Ledezma, um dos principais nomes da oposição venezuelana e ex-prefeito de Caracas, diz que o Brasil deve assumir suas "responsabilidade" na crise venezuelana e garantir a estabilidade na América do Sul. O político pede ainda uma "ingerência humanitária" em seu país, pactada pela comunidade internacional.

Em entrevista exclusiva ao UOL, o venezuelano que se refugiou na Europa alerta que as últimas horas e acontecimentos tem demonstrado que "Maduro é um fantoche das forças cubanas e russas, que o manipulam". "Isso é uma traição à pátria, que ele quer converter numa sucursal das forças do mal", declarou. Em sua avaliação, a oposição já esgotou todos os caminhos negociados ou eleitorais, sem sucesso.

"O Brasil está sendo impactado por grupos do narcotráfico e organizações criminosas que encontraram na Venezuela um terreno de segurança. Portanto, o futuro da estabilidade no hemisfério depende em muito do que vai ocorrer na Venezuela", disse o ex-prefeito que, no início do ano, esteve em Brasília para encontros com o governo de Jair Bolsonaro.

Para ele, portanto, é necessário, "mais que um ato de solidariedade, um ato de responsabilidade por parte do governo do Brasil". Na avaliação do ex-prefeito, Colômbia, EUA e Equador também precisam agir dessa forma para evitar que a Venezuela se converta em "um plataforma do narcotráfico e de criminosos".

Ledezma escapou da Venezuela em novembro de 2017, passando primeiro pela Colômbia e se refugiando na Espanha. Seu trajeto até hoje está sendo mantido em sigilo. Mas ele garante que foi ajudado por "militares venezuelanos e por um terço" que até hoje leva consigo.

O ex-prefeito admitiu que chegou a planejar uma fuga usando Boa Vista. Mas acabou optando pela fronteira com a Colômbia.

Ele foi afastado da prefeitura de Caracas em 2015 e preso, sob a alegação de ter tentando organizar um golpe contra Nicolas Maduro, presidente venezuelano. Ele acabou sendo transferido meses depois à prisão domiciliar. Mas escapou.

Vias pacíficas esgotadas 

"A cada dia que passa, é uma oportunidade que as máfias de Maduro tem para seguir massacrando os venezuelanos", disse. "Esgotamos todas as vias pacíficas e eleitorais, desde participar de eleições desvantajosas até participar de diálogos manipulados pela ditadura", insistiu.

Para ele, o que a ofensiva de Juan Guaidó mostrou é que Maduro não tem seu poder garantido. Mas alertou que russos e cubanos pressionarão para que o governo seja mantido. "Farão isso até exprimir a última gota de petróleo, tirar o último quilo de ouro e usar nosso território para perturbar a estabilidade do hemisfério.

Outro risco, segundo ele, é o de transformar a Venezuela numa plataforma do tráfico de drogas, aliados aos cartéis colombianos, centro-americanos e mexicanos.

Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)