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Jamil Chade

Suíça acena que Lava Jato está longe de ser encerrada

Jamil Chade

29/04/2019 06h22

Em 3a fase da Lava Jato, Suíça investiga seus bancos e empresas

(GETTY IMAGES)

 

GENEBRA – O Ministério Público da Suíça anuncia que está conduzindo uma terceira fase da Operação Lava Jato, com um foco específico no papel de bancos suíços e empresas com sede em Genebra ou Zurique. Em seu relatório anual publicado nesta segunda-feira, a procuradoria-geral também deixa claro que os inquéritos serão mantidos ainda por vários meses e que a operação está longe de ser encerrada.

Iniciada em 2014 em Berna, a investigação suíça sobre a Petrobras e Odebrecht permitiu o confisco de US$ 1,1 bilhão. Desse total, US$ 300 milhões foram repatriados ao Brasil. O restante, porém, continua congelado, aguardando a condenação dos envolvidos e a conclusão das investigações.

Num primeiro momento, a Suíça investigou quem recebeu propinas. Dois anos depois, foram abertos inquéritos sobre quem pagou. Agora, numa terceira fase, a prioridade é a de saber de que forma os bancos locais, empresas e funcionários na Suíça também fizeram parte do esquema.

Num documento apresentado nesta segunda-feira em Berna, o Ministério Público da Suíça aponta que essa terceira fase já se iniciou em 2018, com a abertura de dois inquéritos contra instituições financeiras na Suíça.

"O processo relacionado à semi-estatal brasileira Petrobras e o conglomerado Odebrecht, que é conduzido por uma força tarefa, continua uma prioridade", declarou o MP, em seu relatório anual.

"A força tarefa esteve focada em concluir procedimentos em casos envolvendo pessoas que já tiveram seus casos concluídos no Brasil e, após, nos recipientes de fundos na Suíça e nas pessoas que fizeram pagamentos", disse.

Progresso, segundo o MP, tem sido feito no trabalho dessas fases. "Mas isso será mantido por algum tempo por conta da complexidade dos procedimentos", disse.

3a Fase – De acordo com a procuradoria, uma terceira fase da Lava Jato foi iniciada. Nela, o MP considerará a "possibilidade de abrir procedimentos baseados em informações obtidas nas duas fases anteriores contra pessoas e empresas na Suíça".

"Em 2018, dois processos separados foram abertos contra instituições financeiras na Suíça", explicou, apontando para a responsabilidade criminal.

O MP também deixou claro que, como consequência da condenação da Odebrecht no Brasil e EUA ao final de 2016, Berna passou a receber um vasto número de pedidos de cooperação internacional. Alguns dos casos foram, então, repassados ao Brasil.

Sobre a devolução dos recursos ao Brasil, o MP alerta que o processo tem sido "complexo". "Para o Escritório do Procurador-Geral e a Suíça, é de especial preocupação de que os ativos sejam retornados ao seus donos de direito", completou.

Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)