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Jamil Chade

Governo Bolsonaro pediu para se aproximar da Otan

Jamil Chade

26/02/2019 04h00

O chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, com o secretário de Estado americano Mike Pompeo em Washington (ERIC BARADAT/AFP)

Em reunião no início do ano com representante americano, chanceler brasileiro indicou desejo de parceria com a aliança militar liderada pelos americanos 

 

GENEBRA – O Brasil pediu uma aproximação à Otan, a aliança militar do Atlântico Norte liderada pelo governo dos EUA. A intenção foi mencionada pelo chanceler Ernesto Araújo em uma reunião fechada com o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, no início do ano.

Procurado por este blog, o Itamaraty se recusou a comentar, pelo caráter sigiloso do conteúdo do encontro e dos telegramas produzidos a partir da reunião. Mas três fontes diferentes que tiveram acesso a um relato do encontro confirmam que houve uma proposta de aproximação por parte do Brasil.

Ao longo dos últimos anos, a Otan passou a estabelecer relações com países fora de sua esfera geográficas. Desde 2013, o governo colombiano passou a colaborar com a aliança. Mas foi em 2018 que Bogotá, oficialmente, aderiu como "sócio global" da entidade. A Colômbia, portanto, foi o primeiro e único país latino-americano a integrar o grupo militar.

O movimento por parte do Brasil, porém, vem num momento em que o governo de Donald Trump atua para reduzir a conta paga por Washington para a entidade, solicitando que os europeus também aumentem suas contribuições à entidade.

Ainda assim, Trump deixou claro desde a eleição de Bolsonaro que temas militares entrariam na agenda de cooperação entre Brasilia e Washington.

Essa não é a primeira proposta do Itamaraty sob Araújo na direção de uma aproximação militar com os americanos. No início de janeiro, o chanceler afirmou durante encontro do Grupo de Lima que o presidente Jair Bolsonaro "não exclui a possibilidade" da instalação de uma base militar americana no Brasil. Araújo explicou que isso faria parte de uma "agenda mais ampla" do país com os Estados Unidos. A proposta foi duramente criticada pelos militares brasileiros, que, na prática, enterraram o debate.

Sobre o autor

Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade percorreu trilhas e cruzou fronteiras com refugiados e imigrantes, visitou acampamentos da ONU na África e no Oriente Médio e entrevistou heróis e criminosos de guerra.Correspondente na Europa há duas décadas, Chade entrou na lista dos 50 jornalistas mais admirados do Brasil (Jornalistas&Cia e Maxpress) em 2015 e foi eleito melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões (Prêmio Comunique-se). De seu escritório dentro da sede das Nações Unidas, em Genebra, acompanhou algumas das principais negociações de paz do atual século e percorre diariamente corredores que são verdadeiras testemunhas da história. Em sua trajetória, viajou com dois papas, revelou escândalos de corrupção no esporte, acompanhou o secretário-geral da ONU pela África e cobriu quatro Copas do Mundo. O jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparencia Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti.

Sobre o blog

Afinal, onde começam os Direitos Humanos? Em pequenos lugares, perto de casa — tão perto e tão pequenos que eles não podem ser vistos em qualquer mapa do mundo. No entanto, estes são o mundo do indivíduo; a vizinhança em que ele vive; a escola ou universidade que ele frequenta; a fábrica, quinta ou escritório em que ele trabalha. Tais são os lugares onde cada homem, mulher e criança procura igualdade de justiça, igualdade de oportunidade, igualdade de dignidade sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aí, eles terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação organizada do cidadão para defender esses direitos perto de casa, nós procuraremos em vão pelo progresso no mundo maior. (Eleanor Roosevelt)